quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Nhá Ritinha.





(Jornal de Caçapava,  de 06 de setembro de 2012.)

     Conversando com os moradores mais antigos de Santana, é possível saber muito sobre velhas histórias de São José dos Campos. Uma delas é a de Nhá Rita. Uma história de tristeza num tempo em que o transporte era feito no lombo das mulas e as mulheres podiam pouco sobre si mesmas.

     Segundo contam, Nhá Ritinha era filha de Nhô Chico, um homem com mais de sessenta anos de idade e zeloso quanto ao futuro da filha. Arrumou para a moça, que já contava quatorze anos, um casamento muito oportuno, pois o noivo, um homem já maduro e de posses, teria condições de 'tratar' bem da filha.

     Nhá Ritinha casou-se e tornou-se por préstimo do matrimônio, uma mulher rica. Rica e triste. O esposo era rude, não se dava conta da flor que tinha recebido. Os maus tratos e a ignorância no dia-a-dia fizeram daquela jovem uma mulher solitária e silenciosa. O marido serviu-se de sua fragilidade e mandou-a embora de casa. Numa época em que as convenções eram a visibilidade da sociedade, estar fora do padrão era uma mácula.

     Nhô Chico Duarte recebeu a filha de volta em casa. Tomando consciência do mal que impusera à filha, tentou tirá-la da profunda tristeza em que vivia. O pai resolveu então afastar a filha da cidade e procurou um lugar onde pudessem viver mais tranquilos.  Construiu na região de Santana um casarão.

     E foram os dois viver no casarão. Os moradores mais antigos de Santana contam que foi lá em Santana, no casarão, que Nhá Ritinha, já bem velhinha, morreu, debruçada na sacada do sobrado. E muitos anos depois de sua morte, havia pessoas que diziam que no final da tarde, passando durante os dias mais cinzentos, tristes, terem visto Nhá Ritinha com a juventude de seus quatorze anos debruçada na sacada do casarão.

Sônia Gabriel



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