terça-feira, 9 de maio de 2017

Sarau: J. B. de Mello e Souza - o cronista do rio Paraíba do Sul



Caros amigos, segue o convite para o sarau organizado por Mirian Cris, FCCR, em que serão distribuídos os exemplares de "Rubaiyát - poemas de Omar Kaayyãm", tradução de J. B. de Mello e Souza. O escritor vale-paraibano nasceu em 1888 e foi um cronista do rio Paraíba do Sul, o rio que ele tanto amou a ponto de lhe dedicar suas obras. Venham, vamos apreciar as obras de J.B. e os poemas de Omar Kaayyâm traduzidos por ele. Serão distribuídos 40 exemplares aos que se interessarem pela obra. O livro teve tiragem limitada, edição póstuma e não há no mercado. Sendo assim, um lindo presente que Carolina Frick nos deixou. Conto mais lá, está bem?


Dia 13 de maio de 2017.
15h.
Sala Reginaldo Poeta Gomes.
Parque Vicentina Aranha - São José dos Campos.



Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Com o suor do teu rosto...



(Jornal de Caçapava, 05 de maio de 2017.)

Qual a sua relação com o ofício que você exerce? Já pensou nisso? Eu tenho pensado muito sobre, de alguns anos para cá, por conta de um livro que venho escrevendo. Desde a faculdade, ainda muito jovem, passei por inúmeros autores que se dedicaram ao estudo do mundo do trabalho. Os revisito, quando possível. Obras existem aos montes, mas como é de conhecimento obras de pesquisa muito raramente chegam às nossas estantes operárias. Ficam, na maioria, restritas aos recôncavos da academia. Enfim, não é para este momento essa prosa.
Eu trabalho desde os treze anos, está registrado na carteira profissional, rosto de criança carimbado Malharia Nossa Senhora da Conceição, cidade de Jacareí-SP, nove horas diárias dentro da fábrica dobrando meias. Era preciso. Desenvolvi uma escoliose que levou anos para ser eliminada, pois, cansada, tinha que me apoiar de lado para manter-me em pé; trabalhávamos em pé o dia todo. Era preciso trabalhar. Em nossa família nunca houve outra opção para nossa sobrevivência senão o trabalho. Educação forte que meus pais legaram.
O interessante é que apesar do desgaste, eu não me recordo de sofrer, pois, como mencionei, em nossa casa o trabalho era muito valorizado. É óbvio que meus pais não sonhavam que eu trabalhasse com essa idade, tanto que continuei estudando e quando, alguns anos depois, a "fábrica" queria que trabalhássemos em turnos e isso me impediria de estudar, minha mãe me explicou que era preciso sair daquela empresa. Com o passar dos anos e sempre trabalhando, formei-me e pude exercer o ofício que sonhei.
Trabalhar no que se gosta é um privilégio, mas há pessoas que mesmo não atuando na profissão desejada tem com o trabalho, com a ação de trabalhar, uma relação de apreço que me comove. Tem gente que não sabe não trabalhar, sente-se importante construindo, realizando, vislumbrando... O trabalho é, sim, uma dignidade a mais em nossas histórias individuais para além da necessidade coletiva. Note que não estou tendo a pretensão de numa crônica fazer uma reflexão profunda sobre as questões do mundo do trabalho; apenas, hoje, estou pensando em mim e nas pessoas que compartilham desse prazer que é ser sujeito.
É pesaroso ver tanta gente em busca de trabalho ano após ano, ter sua capacidade de trabalhador ser explorada e desrespeitada por precisar sobreviver; termos nossos direitos de trabalhadores serem usurpados na mais descarada leviandade.
Também não me escapa como tantas pessoas são infelizes em suas profissões, recortes que nos levam a considerar que o trabalho, em sua multiplicidade histórica e filosófica, pode ser um castigo, pode ser fonte de sobrevivência, pode ser uma realização, pode ser um prazer.
Dialogando com o cotidiano atrevo-me a pensar que pode ser o que você é, o que você sente e o que você pensa. Carregamos para o que fazemos o que somos e isso explica como em trabalhos iguais pessoas semelhantes se portam de maneiras tão diferentes. Há pessoas desgastadas e grosseiras em altos cargos como há pessoas gentis e alegres nos mais humildes ofícios. Dadas as mais inusitadas circunstâncias pelas quais passamos, como fazemos o que fazemos em muito reflete o que somos.

Sônia Gabriel


terça-feira, 2 de maio de 2017

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Vamos tomar um café?




(Jornal de Caçapava, 07 de abril de 2017.)


Alguns povos da Antiguidade, em especial os judeus que nos são contemporâneos, honram seus hóspedes como a pessoa mais importante da casa, durante sua estadia. Toda atenção, gentileza e cortesia são oferecidas, pela família, para com aqueles que são visitas.

Nesse momento de deificação do individualismo, é muito comum eu escutar em conversas, nos diferentes ambientes que frequento e trabalho, o desgosto de muitas pessoas em receber visitas. Logo se imagina que sejam visitas indesejáveis, que infelizmente existem. Mas a lista é recheada de pais, mães, irmãos, cunhados, primos e amigos. O que me leva a considerar que a questão, em muitos casos, é não gostar de receber. A princípio parece ser uma contradição ao espírito do brasileiro. Uma contradição também se compararmos ao crescente mercado de venda de produtos e materiais para ambientes de jardim e churrasqueira (os agora espaços gourmet); espaços que só fazem sentido se compartilhados.

Quem consegue pensar num jardim para uma pessoa, fazer churrasco só para si, assar pizza para uma linda noite sem amigos ou parentes? Eu não consigo. Gosto de companhia nesses momentos, gosto de visitas, gosto de arrumar a casa para receber. É verdade que nem sempre podemos receber como desejamos, dado compromissos de trabalho e com a família, mas sempre haverá um feriado prolongado, um domingo de manhã, uma tarde de sábado, um tempinho para um café, um aceno (mesmo que do carro), uma mensagem (que está na moda agora), um sorriso para todos.

Uma vida sem família e amigos não me parece ser propósito para a mesma. A falta do outro é triste. Solidão só é boa quando você a quer por um dia ou alguns minutos. Nos defeitos e qualidades daqueles com os quais convivemos, nos lapidamos e corrigimos. Um abraço, uma ajuda, um ombro são préstimos de valor incalculável.

Uma casa de portas fechadas é triste; uma casa que não acolhe, que não é espaço que desperte o prazer de receber visitas não é lar. Lar, por essência, acolhe, aconchega, agrega. O outro nos humaniza. Marque uma visita para alguém que faz tempo que não vê. Chame alguém para almoçar, jantar, abra as portas da casa e do coração, passe por essas portas e janelas reais. Abrace. Leve pão, bolo, pudim ou nada, mas leve principalmente você.

Quanto menos convivemos, mais consumimos; quanto mais as famílias diminuem, mais elas consomem. Já pensaram nisso? Menos espaço para o consumismo, para a violência e para a tristeza que contamina.

Vamos tomar um café?

Sônia Gabriel