sábado, 29 de agosto de 2015

VI Dia Valeparaibano de Contar Histórias - Uma história de Brasilino Neto.



Encerrando nosso dia de contar história com categoria...



Inteligente sim, forte não.

 O Pedrão outro dia contou uma história que igualmente fez com que todos rissem pelo fato e pelo jeitão que ele desfia suas narrativas.

Disse ele que trabalhava com o Carlão, seu amigo também de quase dois metros, na Fazenda do Tião Mário, ali nas redondezas de minha casinha.

Que estavam fazendo um trabalho e se valiam para isto de uma carroça puxada por um burro daqueles no tamanho dos dois, dele e Carlão, “pois o bicho tinha mais de sete parmo de altura”, de nome de Geringonço.

Disse Pedrão que no decorrer do trabalho, no período da tarde o Geringonço, certamente por achar que já havia trabalhado demais, empacou e não ia nem pra traz e nem pra frente.

Como se não bastasse ele ainda se deitou e torceu o varal da carroça do Tião Mário, que tinha verdadeiro ciúme dela, pois segundo o Pedrão sabia, ela havia sido herdada do pai Chico Mário.

Neste instante Carlão ficou meio apavorado e nervoso pelo que ocorria, e com medo que o burro se movimentasse e quebrasse o varal, e se isso acontecesse o que ele diria ao Tião Mário ?

Continuou Pedrão a narrativa.

Carlão mesmo nervoso ainda tenta demover ao Geringonço para que levantasse numa boa, mas o burro se fazia de desentendido e nem bola dava pra o que o Carlão falava e continuava ali deitado, remexendo e arriado e preso à carroça.

Quando Carlão viu que o negócio estava ficando feio e que o burro poderia quebrar o varal o que deixaria Tião Mario louco com ele, sua paciência acabou.

Foi lá soltou o arreio, levantou o varal e tocou o animal para que ele se levantasse, quando então, pensou Carlão, “eu coloco o arreio nele e novamente na carroça pra completar o trabalho e descarregar o material que nela estava”.

E nada do Geringonço se mexer.

Neste momento o Pedrão, pra tirar uma com a cara do Carlão, falou para ele: “Carlão o Geri não tá nem ai co cê. Ele só tá oiando ocê com o rabo do zoio e só não tá dano risada por que ele não sabe ri, mais eu tô achando isso muito engraçado, pois quem vai tê que puxá a carroça até o manguero é ocê”.

Carlão muito irritado pela situação e pela gozação do Pedrão falou: “A é assim ? Então Pedrão ocê vai vê quem pode mais”.

Carlão deu uns passos na direção de Geringonço, juntou no pescoço do animal e à força tentava fazer com que ele se levantasse e o Pedrão vendo aqui somente ria da irritação de Carlão, pois o Geri nem bola dava a ele.

E pra cutucar a onça com vara ainda curta e irritar mais o Carlão, Pedrão chegou perto do Geri, que é como ele chama o animal, com o Carlão agarrado ao burro e falou: “Geri, vô dá um coseio procê: Se eu fosse ocê eu levantava e puxava a carroça até o manguero pra descarregá, e ficá tudo resorvido, pois ocê vai tê desvantage com o Carlão, pois eu acho que ocê é mais inteligente que ele, mas mais forte ocê não é, e oce só vai levá a pior. Te aconseio, levanta”.

Completou Pedrão: “Neste instante o Carlão dá uma oiada pra mim, larga o Geri e parte pro meu lado P da vida, com certeza pra me dá uns tapas, e memo sendo desse tamanhão que eu sô, cá réiva que o Carlão tava não tive outro jeito se não dá uma corrida pras coisas não ficá pior. O Carlão também ameaçô uma corrida mais parô uns metro à frente xingando toda minha famia, principarmente minha mãe e pedindo que não falasse mais com ele.”

Pedrão, mesmo tendo dado uma corrida ainda não se deu por vencido e fala pra Carlão: “Tá bão, então nois tamo de mar um co otro, só quero sabê com quem que ocê vai pras farra, vai tomá umas cachaça e proseá nos finar de tarde. Dexa está”. Virou e saiu andando com os passos meio ligeiros e com o rabo de olho observando se Carlão não vinha atrás.

Do topo do morro viu que o burro Geri se levantou e pensou, já tá tudo perdido mesmo, então perdido e meio e gritou pra completar a irritação do companheiro:  ‘Carlão, viu ? O Geringonço escutô meio conseio e viu memo que ele é mais inteligente que ocê, mas mais forte ele não é, então por isso ele se levantô’.

O Gerigonço se levantou, mas o Carlão sentou no barranco e ali ficou um tempinho de cabeça baixa olhando pra o burro e por vezes ao Pedrão que do alto do morro observada tudo, depois Carlão deu continuidade na caminhada com o animal puxando a carroça e pondo fim à labuta diária.

Carlão ficou quinze dias sem falar com Pedrão, mesmo continuando a trabalhar junto no dia a dia, mas num final de tarde se encontraram no boteco onde ‘faziam ponto’ e Carlão então falou: “Cumpadre Pedrão, senta aqui pra nois tomá essa cerveja junto e trocá uns dedinho de prosa”, como se nada tivesse acontecido e não tocou no assunto da empacada do Geringonço.

Continuaram bons amigos e companheiros da lida diária, da prosa, da cachaça e do compadrio. Trabalham e convivem e são bons amigos, compadres e felizes.


Brasilino Neto



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