quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Despedida poética.



(Jornal de Caçapava, 21 de novembro de 2014.) 

Esse ano está sendo um teste de sobrevivência para os que gostam das palavras escritas. Ainda não fiz uma homenagem à altura desse menino poeta, pois eu não estou à sua altura... Mas voltei aos seus livros. Reli com aquela dor de saber que não teremos mais daquilo que sua alma tinha, cuidemos do que ele nos deixou. 
Nunca saímos os mesmos de um livro. Muito menos quando voltamos ao mesmo livro...
Com as leituras dos livros do poeta Manoel de Barros, eu aprendi a observar. É o que tenho feito por tantos anos, observo. Presto atenção nas pequeninas coisas, aquelas que passam despercebidas por acharmos (como ele diria) que são desimportantes. Olho com muito cuidado para dentro de mim e na possibilidade de não me maltratar e evitar ser motivo de sofrimento ao próximo, deixo passar o tempo. Continuo a observar. 
Manoel de Barros olhava com atenção cada pedrinha esperando pelo movimento; cada folha caindo sabendo-se alimento para a terra devolver à planta; cada fruto amadurecendo sabendo-se alimento também para mãos que não plantam; cada vida se fazendo nos pássaros, nos peixes, na chuva...
Ele não olhava por nós, não nos queria obrigar nem convencer a ver... generoso; ele só via e contava o que via e a gente quando lia escolhia se ver ou não queria ... 
Sábio dominava palavras simples construindo poemas profundos.

Viva o poeta das coisas (aparentemente) desimportantes!

Sônia Gabriel

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Águas assombradas.



(Jornal de Caçapava, 19 de setembro de 2014.)


Da convivência, inicialmente forçada, dos povos europeus, africanos e indígenas nasceu uma comunicação que frutificou em lendas, causos e mitos envolvendo o misterioso, o que assombra e maravilha gerações e gerações de ouvintes que se encarregam de passar, oralmente, adiante o que a encantou, perpetuando saberes.
Dessa rica tradição oral, temos personagens que em cada canto do Brasil adquirem características que os contadores se incumbem de agregar.
A cobra imensa que povoa as lendas amazônicas, também é encontrada nas lendas do sudeste brasileiro, o réptil cresce tanto que abandona o rio e atravessa a terra, por onde ela passa surgem os igarapés que são braços estreitos dos rios e têm pouca profundidade.
Diz a lenda que a Cobra-Grande pode se transformar em embarcações e assim enganar suas vítimas; avisados da presença dela nenhum pescador se atreve a ir para o rio em busca de peixes. 
No Vale do Paraíba, a Cobra, a Serpente, o Jacaré e o Minhocão são personagens que o rio Paraíba hospeda em ricas lendas. Também a bela e enigmática Mãe d'água costuma dar o ar de sua graça por nossas sinuosas memórias banhadas pelo Moço Bonito.
Já o Caboclo d’água tem poderes sobre as águas e persegue pescadores e viajantes nos rios. Quando sente antipatia pelo viajante o apavora e vira sua embarcação. Segundo o folclorista Câmara Cascudo, o caboclo que mais aparece nas descrições dos depoimentos é baixo, grosso, musculoso, cor de cobre, ágil e sempre enfezado. Muitas histórias até hoje povoam o imaginário daqueles que ainda trazem na memória o tempo em que o rio Paraíba impunha sua personalidade ao lugar. Foi de suas águas que três pescadores recolheram a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Santa que conquistou a devoção popular e foi consagrada Padroeira do Brasil.

Sônia Gabriel


Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Tesouro assombrado.




(Jornal de Caçapava, 05 de setembro de 2014.)


Em São Luiz do Paraitinga, já teve muito ponto de parada de tropeiro, lugar onde os viajantes descansavam das longas jornadas de trabalho. Além de transportar mercadorias, todo tropeiro sabe muito bem contar uma história, principalmente se for de assombração.
Certo tropeiro, todo prosa, contou que das muitas fazendas que os recebiam, havia uma muito velha que ninguém queria. Era sempre rejeitada por temor de encontrarem assombração. Quem já tinha se atrevido a pousar por lá dizia que, a certa hora da noite, aparecia um homem muito grande, aterrorizante, que corria atrás dos tropeiros com uma cavadeira na mão.
 Mas sempre tem um corajoso que quer desafiar a assombração. 
Pois aconteceu que um tropeiro, mesmo sabendo do assombramento, resolveu que iria dormir lá. Não deu outra: tarde da noite, algo muito estranho começou a acontecer. Um barulho esquisito misturado com uma voz aterrorizante avisava que iria cair. O tropeiro mais cansado que com medo, desafiou que caísse logo. A assombração do homem muito grande apareceu, e constatando que o assombrado não estava nem um pouco assombrado convidou-o a segui-lo. Agora já um tantinho incerto, mas com muita curiosidade, o tropeiro foi atrás.
Começou a perguntar para onde iriam e o que fariam, mas a assombração nada respondia. Quando alcançaram uma clareira no terreiro da casa, o tropeiro foi instigado a cavar um buraco no chão. O fez e não acreditou quando encontrou uma grande vasilha parecendo uma panela já enferrujando. A panela estava repleta de ouro.
O tropeiro então viu que a assombração parecia aliviada pelo homem ter encontrado o tesouro enterrado. Aquela alma atormentada, sabe-se lá por qual motivo de ganância, estava aguardando alguém encontrar a fortuna escondida. O tropeiro enricou e nunca mais se soube de nenhuma aparição de assombração por aquelas antigas bandas.

Sônia Gabriel



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Convite para Encontro de Educadores - livro 'Palavras que moram em nós'







"O Parque Vicentina Aranha (R. Engº Prudente Meireles de Moraes, 302 – Vila Adyana) recebe no sábado (7/2), às 15h, na sala de leitura Réginaldo Poeta, um encontro de educadores e professores para debater o livro “Palavras que moram em nós”, escrito pelos alunos da Escola Estadual Dr. Rui Rodrigues Dória, de São José dos Campos. A entrada é gratuita.

Nesse encontro, o jornalista Carlos Abranches e a poeta Zenilda Lua estarão presentes para discutir o processo de escrita do livro, desde a concepção até sua finalização e lançamento.

“Palavras que Moram em Nós” é o resultado do desdobramento do projeto Almanaque Rui Dória, projeto que trabalha as competências de escrita e leitura dos alunos da Escola Estadual Dr. Rui Rodrigues Dória (Rua Olivio Gomes, 329 - Santana), considerando as habilidades de ler, escrever, reescrever, apreciar poemas, organizar memórias a partir de relações afetivas e reconhecer suas memórias como um patrimônio pessoal.

A idealização do projeto surgiu no cotidiano escolar e no antigo sonho de alguns professores na realização de um projeto literário para ampliar as possibilidades de leitura e escrita dos estudantes.

Os poemas dos alunos transpostos para o livro nasceram a partir da leitura da obra “A Casa que Mora em Mim”, do jornalista Carlos Abranches e da memória afetiva dos estudantes criada pela obra do jornalista.

O projeto foi idealizado e organizado por Daniela Cristina Santos, Rita de Cássia Castilho de Araújo e a escritora Sônia Gabriel."




Contamos com a presença de todos!
Paz e bem!

Sônia Gabriel