segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Escolhas.



(Jornal de Caçapava. 22 de agosto de 2014.)


Somos nossas escolhas! Quantas vezes já escutamos isso e eu concordo, salvo arestas a serem aparadas. Nada é absoluto; eu que acreditava que somente a morte o seria, já ando tendo minhas dúvidas sobre. Mas como justificar algumas de nossas escolhas para aqueles os quais temos apreço? Afinal, só podemos usar tempo justificando-nos para os que prezamos.

Em minha vida, as escolhas não são fúteis, primo por isso já que nada posso sobre o aleatório. Talvez para me sentir menos impotente sobre a vida é que faço minhas escolhas sempre com muita parcimônia. Procuro buscar pelo exemplo daqueles que me inspiram a querer o bom e o bem. Mesmo assim, algumas escolhas podem parecer, aos olhos alheios, falta de amor e compaixão. Nem sempre o são, eu o sei tanto quanto sei a importância desses sentimentos, porém também compreendo com muita clareza que o amor e a compaixão precisam ser exercitados igualmente por nós mesmos.

Afastar-se da convivência de algumas pessoas não é desprezo pelo humano, é preservar o humano com dignidade em nós. Pelo próximo devemos ter amor semelhante ao que temos por nós, não foi o legado que as mais antigas religiões nos deixaram? Se não nos amamos e respeitamos, como poderemos oferecer estes anseios?

Se permitirmos aos que tentam nos usurpar a dignidade, a paz e desequilibrar nosso tempo e serenidade em família que permaneçam em nossas vidas, exercitando só o que podem oferecer sem o lapidar do amor, estaremos nos amando?

Não acredito no sofrimento e declínio da alegria para ter uma imagem de benevolente. Não seria sincero de minha parte. Seres que nos desqualificam (ou àqueles que tanto prezamos), de maneira leviana, para sentirem-se capazes; seres que nos desmerecem para serem aceitos; seres que nos julgam como se nossas vidas estivem a mercê de olhos inquisidores; seres que tentam nos manipular os sentimentos, pois entendem que não seremos capazes de resistirmos sem suas presenças... Não! Desmerecem nossa companhia; merecem nosso perdão, nossa retidão e educação, mas permitir que continuem a ter a oportunidade (através de nós) de continuarem a ser tão pouco enquanto gente é sim ter falta de amor (de nossa parte) para com o próximo.

Ainda acredito que as mudanças que desejamos para uma convivência mais harmoniosa entre os seres começam em nossos lares, ninguém pode almejar mudar o macro sem zelar pelo micro. A família e os amigos são bens preciosos, raridade que por ser cotidiana corre o risco de não receber a devida atenção de nossa parte. Minhas escolhas sempre consideraram em primeiro lugar a família que tanto sonhei em construir e a vida me deu o privilégio de realizar. Com todas as dificuldades que todos sabemos bem, com trabalho, com renúncias e com o exercício do desapego, mas também com a alegria de saber que há uma casa e mais que o lugar, uma família, para onde sempre poderemos voltar e sermos, simplesmente, nós. Dentre minhas escolhas cotidianas, peço sempre por sabedoria para permitir que privem de nosso lar aqueles que sabem o valor de um lar, que privem de nossa convivência aqueles que sabem o valor da fraternidade e da amizade.

Sônia Gabriel


Alexandre M L Barbosa escreve sobre 'No Quintal da Bruxa', Jornal O Lince, 20/08/2014.


Belíssimo texto de apresentação, escrito por Alexandre M L Barbosa, sobre o livro 'No Quintal da Bruxa'. Alexandre é professor, escritor e editor do Jornal O Lince. Ler sobre meu trabalho nas linhas competentes e profissionais do experiente editor foi uma das grandes honras que tive em minha caminhada como escriba. 
Grata.
Sônia Gabriel





'No Quintal da Bruxa' é indicação de leitura no Informativo do IEV, agosto 2014.




Agradeço ao Diego Amaro pela deferência.
Sônia Gabriel


Revista + São José, Jornal O Vale






Tive uma pequena participação na entrevista 'A cara de São José' em comemoração ao aniversário da cidade.
Matéria da jornalista Daniela Borges, em julho de 2014.
Obrigada por considerar minha opinião importante.

Paz e bem!
Sônia Gabriel




Conheça a revista integralmente: http://revistasaojose.ovale.com.br/revista-digital/




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Sobre o amor aos animais.



(Jornal de Caçapava, 01 de agosto de 2014.)


Eu não tenho animais em casa, minha família já teve e sempre me fez muito mal vê-los presos. A liberdade é um bem intrínseco aos seres vivos e não apenas aos que se dizem humanos. Os animais com os quais já dividi minha morada não eram meus; não é da minha natureza nenhum tipo de cativeiro. Aqueles que, nessa vida, ficaram ao meu lado foram apenas cativados.

Quando criança, lembro de que havia um cachorro em nossa casa, quem cuidava era minha mãe. Na juventude, havia outro cachorro que meu irmão insistiu muito para trazer para casa, mas quem cuidava era minha mãe. Depois que me casei, meu sogro presenteou meu marido com (adivinhem!) um cachorro, deixei claro que eu não cuidaria pelo simples fato de trabalhar dentro e fora de casa, mal tinha tempo para cuidar de mim (assim continua, risos) e não acho certo ter o bichinho e deixar sem cuidados. Certa manhã, o cachorro adoeceu e dentro de alguns dias morreu, foi a primeira vez que vi um ser vivo agonizando e suspirar por derradeiro, fiz meu marido prometer que não teríamos mais cachorros.

Quando meu filho era pequenino, não teve jeito, acharam de lhe dar um passarinho, o avô novamente, confesso que quando a coleirinha enchia as manhãs da nossa casa com seu canto, meu coração condoía num misto de apreço pelo canto e dor pela prisão. Poucas coisas são tão tristes quanto ver um pássaro cantar dentro de uma gaiola. Um dia, quando estranhei que a manhã havia nascido sem o canto da coleirinha, notei que a ave havia sumido e alguns dias depois confirmamos que a filha da vizinha, com sete ou oito anos, havia pulado o muro da nossa casa e aberto a gaiola. Não consegui ficar brava.

Não demorou muito, um amigo, penalizado pela tristeza do meu filho, enviou outra coleirinha que o menino tratou de batizar com o mesmo nome da anterior. Durante quase dois anos, lamentei pela prisão da cantora que embalava as manhãs, assim que alguma torneira da casa fosse aberta. Esta morreu de velhice, eu acho. A partir daí, não permiti nenhum outro bicho em cativeiro aqui em casa. “Quando tiverem suas casas, vocês terão seus animais”, reforço. É de meu íntimo, não consigo. Tenho pela natureza o mais profundo respeito e associo o respeito ao direito de liberdade. Por isso admiro os gatos, apesar de não ter nenhum. Eles vão e veem conforme querem, sempre tinhosos e livres.

Cada um sabe o que deseja por companhia e como pertencer ou se apropriar dessa presença; eu não aprendi a me relacionar com os animais em vida doméstica. Também nunca tinha me atentado para essa reflexão. O que me trouxe a essas linhas então? Um fato corriqueiro...

Quando minha filha esperava a entrada do balé, uma mãe chegou com sua criança e um cachorro totalmente adornado, minha filha se assustou, não quis que o animalzinho a lambesse, dei-me conta de que devido minha posição e a falta de costume com animais domésticos, ela teve receio de se aproximar; por alguns instantes preocupei-me, mas então recordei o quanto ela admira e curte os bichos soltos na roça, sosseguei.

Ela vai se acostumar com minhas considerações e terá espaços para ter as suas, mas eu confesso, vou insistir para que ela respeite a liberdade de todos os seres vivos. Se escolher a companhia de algum bichinho, que não compre, pois como comercializar os seres que tanto dizemos que amamos? Como comprar um filhote de cão, sabendo da crueldade cometida com as fêmeas usadas como matrizes? Pobres descartadas, pelas lojas e clínicas, assim que não conseguem mais reproduzir. Também vou ensinar a não torná-los reclusos e solitários, acho muito triste. Conheço pessoas que os deixam amarrados na coleira, o dia todo, presos em apartamentos à espera do momento em que seus donos (propriedade?) possam lhes fazer um afago.

Há muitas considerações e poderíamos passar dias discutindo sobre os benefícios (nossos) e não benefícios (para muitos cachorros) a respeito do tema, mas há que se concordar que são os cães seres especiais que acompanham os seres humanos há tanto tempo que já perdemos a memória coletiva de como essa amizade começou. As teorias são muitas, os costumes alteram-se de acordo com lugares, estilo de vida e condição financeira, mas permanece o laço afetivo daqueles que se aconchegam para além das diferenças de espécies.


Sônia Gabriel


Para Guardar: Carlos Abranches.





Há palavras que nos motivam e são presentes que fazemos questão de guardar. Essas palavras assim vindas de graça, de presente, de brisa mansa que nos refresca depois de tanto trabalho.
Obrigada, Carlos Abranches.
Paz e bem!
Sônia Gabriel



Matéria sobre lançamento de 'No Quintal da Bruxa', em Cunha - 25/07/2014.


Mônica Magno, editora do Jornal de Caçapava, obrigada pela matéria tão delicada. Sinto-me muito privilegiada por compartilhar minhas crônicas com seus leitores.
Paz e bem!
Sônia Gabriel




Jornal de Caçapava, 25 de julho de 2014.





Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Sobre ser professor II.



(Jornal de Caçapava, 27 de junho de 2014.)


Deveríamos escolher essa profissão por total encantamento com o conhecimento que produzimos. Sim, o conhecimento deveria ser a motivação principal. Ter a curiosidade de entender como a humanidade se constrói e reconstrói a partir do saber.

Você pode estar se indagando: “mas não deveria ser o gostar das crianças, adolescentes e jovens, o motivo principal?”. No meu entender, o afeto deveria estar implícito em toda relação entre os seres vivos, assim como o respeito à diversidade. Lembro-me de uma professora, na faculdade, que nos dizia que se gostávamos tanto das crianças que fôssemos atuar como babás, monitores de festas infantis e parques de diversão. Não chego a tanto em minha consideração, mas entendia o que ela queria nos dizer.

Professores são profissionais que trabalham com o conhecimento. Está em nossas mãos e sob nossa responsabilidade democratizar o acesso ao conhecimento. Possuímos a ferramenta que pode diminuir a desigualdade entre nós. O conhecimento que produzimos não nos pertence, pois nada do que criamos o fazemos sós. Todo o saber da humanidade é uma construção coletiva e permitir, por vontade própria, que o saber permaneça nas mãos de uma minoria é mais que uma irresponsabilidade, é uma incompetência enquanto profissionais que somos.

Eu sei aquela lista enorme de dificuldades que enfrentamos, todos os dias, aula a aula, eu também as enfrento e não é fácil. Mas sempre teremos em cada turma alguns olhos curiosos, olhos cheios de empáfia (às vezes) por não terem as respostas que procuram. São esses olhos que não podemos nos negar a enfrentar. Dizer-me que todas as salas de aula são repletas de seres que não querem saber é subestimar a experiência desses anos todos que venho trabalhando, cobrando (às vezes até brigando), exigindo, tentando plantar sonhos, me desgastando. Em muitos momentos, quase me desencantando, mas nunca só passando pelas salas de aula.

Continuaremos nossas considerações.

Sônia Gabriel


Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Sobre ser professor.



(Jornal de Caçapava, 13 de junho de 2014.)


Há vários motivos para alguém ser professor e apenas um relevante para alguém escolher ser professor. Conheço professores que atuam na profissão, pois não conseguiram passar na primeira opção do vestibular, que acharam que não conseguiriam pagar um curso mais caro, que queriam um emprego em que pudessem trabalhar meio período, que entenderam ser uma profissão ideal para mulheres...

Isso não quer dizer que profissionais que chegaram ao Magistério por esses caminhos não sejam competentes, muitos o são e encontram o tal motivo relevante mesmo que por caminho alternativo. Outros, pena, não conseguem encontrar e o resultado é um sentimento de incompetência e abandono que se manifesta em discursos que se repetem e ampliam-se mesmo entre professores jovens que acabam de se formarem. ‘É assim mesmo’, ‘não adianta’, ‘não sou pago para isso’, ‘eles (os alunos) não sairão disso’, ‘não vou mudar o sistema’, ‘meu filho não estuda aqui’, ‘se não aprendeu até agora, não vai ser comigo’...

Ser professor é um desafio, todos nós sabemos e isso não é de hoje. Claro que as atuais adversidades são novidades em nossa história brasileira. A escola para todos é recente e nós, profissionais, temos uma formação ainda muito aquém da ideal. Aliás, estamos em construção desse aprendizado sobre qual seria a formação ideal para professores e em que melhoraria a aprendizagem de nossos alunos.

Sim, temos dificuldade em assumir isso. Ainda não assisti a uma discussão sobre o tema que não caia no senso comum e com abordagem demasiado doméstica. Penso que seja o esperado, pois as adversidades são tantas e tamanhas que colocar-se entre elas, parece absurdo. Mas qual seria a nossa responsabilidade? A maneira como escolhemos a profissão tem relação com nosso desempenho?

Continuaremos nossas considerações.

Sônia Gabriel


Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Sobre responsabilidade.




(Jornal de Caçapava, 30 de maio de 2014.)


Ganhei da contadora de histórias e arte-educadora Cíntia Moreira o livro “A força da ternura”, de Leonardo Boff. O subtítulo “Pensamentos para um mundo igualitário, solidário, pleno e amoroso” me tocou. Aprecio muito o tema. O presente foi ofertado no dia do sepultamento de nossa mais ilustre vale-paraibana, Ruth Guimarães. Sinto que tenha sido um carinho para alento do meu coração, quando retornei de Cachoeira Paulista. Entendo que possa ter sido, também, um gesto de homenagem, pois solidariedade era uma das mais marcantes características de Dona Ruth.

Logo nas primeiras páginas, o autor define que “o outro não é o inferno. O outro é o caminho para o céu. No fundo, tudo passa pelo outro, pois sem o diálogo com o outro, com o tu, não nasce o verdadeiro eu nem surge o nós que cria o espaço da convivência e da comunhão. (...) É o outro que faz emergir a ética em nós. Ele nos obriga a uma atitude ou de acolhida ou de rejeição. É aqui que surge a questão do bem e do mal. Quer dizer, daquilo que faz bem ou daquilo que faz mal ao outro”.

Tais palavras me calaram fundo, pois tenho a oportunidade de conversar com os companheiros amantes dos livros e das artes e muito nos ocupamos desse assunto. Desejamos melhorar, buscar em nossa essência o zelo pelo próximo. Eu entendo que querer já é metade do caminho; mas a outra metade, exercitar, é tão difícil! Sabemos o quanto é importante vida comunitária e mesmo assim perdemos tanto tempo na solidão desejada! Sabemos o quanto a presença do outro é referência para nossa construção, mas permitimos tão pouco! Sabemos que a imperfeição do outro é refinado espelho diante de nós, mas não cremos!

O outro é nossa extensão. Não tenho a pretensão hipócrita de enganá-los dizendo que já sei amar todo e qualquer “próximo”, infelizmente ainda não. Mas já sei respeitar; já sei silenciar se não posso contribuir; já sei a prática da tolerância, mas, por Deus, tanto ainda me falta!

Falta a responsabilidade. Leonardo Boff também escreveu que “a relação com o outro suscita a responsabilidade. É a eterna pergunta de Caim, o assassino de Abel: “Sou eu responsável por meu irmão?” Sim, colocados diante do outro, de seu rosto e de suas mãos suplicantes, não podemos nos negar: temos que responder. É o que significa a palavra responsabilidade, dar uma resposta ao outro.”

A quantas anda nossa responsabilidade para com o próximo? E nem digo da responsabilidade que os abnegados e almas superiores praticam, a ideal. Penso, unicamente, por hora, na resposta silenciosa de em nada depreciar quem nos pode ser espelho.

Que exemplos serenos e carregados de simplicidade no exercício de ser solidário não nos faltem, que sejam sempre eternos, que sejam encantados como Ruth e tantos outros que nos ajudam a não apenas passarmos pela vida, mas a viver com dignidade.

Sônia Gabriel