quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: O Vale dos Tesouros.



(Jornal de Caçapava, 13 de setembro de 2013.)


  Há alguns anos, venho reunindo lendas e histórias que o povo valeparaibano conta sobre tesouros escondidos, enterrados; tesouros amaldiçoados; tesouros que criaram personagens encantados. Tantas histórias de tesouros pelo Vale do Paraíba têm justificativa, pois a região banhada pelas águas do rio Paraíba do Sul tem participação direta no período da mineração do Brasil Colônia e, depois, contando com personagens ambiciosos, cheios de mistérios e meandros para não verem suas fortunas serem furtadas. 
Fortunas que às vezes ficavam tão bem escondidas que sobreviviam aos seus proprietários legítimos ou nem tanto.
Uma história diz que quem passa pela igreja de São Benedito, em São José dos Campos, talvez não saiba que sua construção está relacionada a um desses tesouros. Segundo contam, ela começou a ser erguida por volta de 1870. Um dos construtores respondia pela graça de Zé Taipeiro. O homem, um misto de pedreiro com carpinteiro, era o responsável pela construção que se valia de escravos. Dizem que, por falta de dinheiro, a construção teve que parar várias vezes. A igreja chegou a ser inaugurada sem estar terminada.
Um lavrador conhecido como João Ribeiro, do Bairro do Jaguari, estava reformando um velho casarão, quando ao quebrar uma das paredes, descobriu um panelão de barro enterrado. A vasilha estava cheia de barras de ouro. O homem, diante de tanta sorte, resolveu agradecer a Deus, doando para a igreja dinheiro suficiente para terminar a construção, concluída alguns anos depois.
Tesouros estão tão impregnados no imaginário coletivo quanto a vontade de enricar (como se dizia antigamente). A ganância, a ambição, a avareza também fornecem elementos ricos para a construção de tantas histórias. A relação de exploração dos mais abastados para com os menos afortunados ganha na boca popular nuances de anedotas, de encantamento, de assombro.
Sim, temos muitas histórias. Continuo realizando o levantamento e graças aos nossos persistentes contadores de histórias; graças aos avós, tios, pais que perpetuam a memória coletiva nos finais de tarde, nas praças, jardins e varandas, nos enveredamos por um mundo de fantasias e realismos de nossa tradição oral.

Sônia Gabriel


Workshop sobre a pesquisa para a exposição Na outra margem... SESC - Taubaté






Em agosto, realizamos um encontro com os monitores que atuam na exposição Na outra margem: o rio Paraíba do Sul. Ilustrando a tarde de estudo e trabalho um pouco de encantamento com as Fiandeiras da Palavra.



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Se conta em Lagoinha...



(Jornal de Caçapava, 09 de agosto de 2013.)


Lagoinha é uma cidade de ruas acolhedoras e agradáveis. Antigamente, havia poucos habitantes na vila e as casas eram fechadas no tempo de festas, pois a população que vivia na zona rural vinha toda para a cidade para devoção e diversão. Nesta época, por vários dias, os moradores percebiam que à meia-noite, no morro da atual rua Manuel Jacinto, fazia um barulho parecido com um pilão rolando rua abaixo e que parava perto da casa do senhor José da Zica. Sempre que isto acontecia Seu José Eugênio abria sua janela para ver o que era e não tinha nada na rua. Só por Deus! Nenhum vestígio sequer. Mas o barulho sempre voltava.
Pela cidade ainda se conta que depois da meia-noite saíam do cemitério alguns pilões que rolavam por todas as ruas da cidade. Que será que era aquilo?
Mais assombroso ainda foi a mãe que rejeitou o bebê e jogou-o no Rio do Peixe. Os pescadores foram pescar e disseram que ele virou uma grande cobra. E, por falar em mãe que rejeita filho, ficou na boca do povo o caso misterioso da Porca. Antigamente, depois da meia-noite, descia no morro da Escola Padre Chico, uma leitoa e sete porquinhos. Dizem que andavam por todas as ruas da cidade. Alguém se lembra dessa história?

Sônia Gabriel


Na outra margem: o rio Paraíba do Sul- Exposição no SESC Taubaté


Caros amigos, através do Instituto Ecocultura de Educação Patrimonial, Pércila Márcia e eu realizamos uma pesquisa, para o SESC Taubaté, que embasou a produção (realizada pela Conceito Humanidades) da exposição Na outra margem: o rio Paraíba do Sul. Nosso levantamento foi acerca dos aspectos históricos-culturais da região banhada pelas águas do rio Paraíba do Sul. Visitem a exposição e aguardamos as considerações de todos. Algumas imagens para instigá-los...

















"O Sesc Taubaté abre no dia 21 de agosto, às 19h30, a Exposição Na Outra Margem: O Rio Paraíba do Sul. A mostra temática foi concebida pela equipe técnica da unidade de Taubaté, e teve a pesquisa sobre o patrimônio cultural realizada pelo Instituto Ecocultura e patrimônio ambiental e cenografia pela Conceito Humanidades. O visitante será convidado a fazer uma viagem à outra margem do rio de forma lúdica e reflexiva, acompanhado por mediadores que explicam cada elemento cenográfico. O percurso também conta com uma ferramenta inclusiva: audioguia com audiodescrição para pessoas com deficiência visual.
A proposta da Exposição Na Outra Margem: O Rio Paraíba do Sul é a abordagem do patrimônio natural e das relações com ele estabelecidas: históricas, simbólicas e afetivas.
Numa analogia à própria geografia física do rio Paraíba do Sul, o roteiro concebido e elaborado para a exposição segue o próprio itinerário do rio – nascente, percurso e foz –, buscando mapear a paisagem valeparaibana e entender os diversos momentos definidores de sua geografia cultural.
Esses três momentos (nascente, percurso e foz) são, também, três momentos metafóricos. “Existe um traçado geográfico do rio, mas também existe um traçado subjetivo que está no imaginário das pessoas. Trabalhar com esse imaginário também é uma proposta desta exposição”, explica Fabio Luiz Vasconcelos, assistente técnico da Gerência de Programas Sócioeducativo do Sesc São Paulo.
Alinhado aos objetivos do Programa de Educação para Sustentabilidade, em que o compromisso do Sesc com o ambiente traduz-se na promoção de programas e projetos socioeducativos visando à conservação ambiental e à compreensão das inter-relações entre Natureza e Sociedade. “Com mais esta iniciativa, orientada pelas diretrizes da educação para a sustentabilidade, o Sesc mantém-se atento às transformações sociais e à necessidade de repensar os padrões de uso e distribuição dos bens ambientais, a fim de contribuir para um debate que privilegia modos de viver mais equilibrados, cuja dimensão cultural possa ser agente de integração das relações sociedade-natureza, prevalecendo formas mais justas e solidárias de vida e de relação com o ambiente".
Site – Sesc São Paulo.

Serviço:
Período de Visitação:
Data: 22/8/13 a 4/3/14
Endereço: Avenida Engenheiro Milton de Alvarenga Peixoto, 1264, Sesc Taubaté - SP

Fiandeiras da Palavra se apresentando no SESC

Encontrar os amigos é sempre bom!



Venham, aproveitem as histórias de nosso rio!




Cantinhos do MAV - Museu de Antropologia do Vale do Paraíba


Muita história e cultura para os visitantes...











Coluna Crônica Jornal de Caçapava: História e histórias que o povo conta no Vale do Paraíba - Final



(Jornal de Caçapava, 23 de agosto de 2013.)

Uma das grandes dificuldades de se ensinar História para os alunos dos ensinos fundamental e médio é o aparente distanciamento entre a realidade cotidiana e os conteúdos apresentados, além da questão temporal. A faixa etária desses períodos escolares ainda pode ser atraída pelo imaginário coletivo e uma das estratégias em que se pode apostar é exatamente este imaginário. Com o intuito de despertar a curiosidade para fatos tão distantes deste novo século, lendas e mitos podem ser ferramentas.
Exemplo desta estratégia são as aulas sobre a presença dos Jesuítas no Brasil. O conteúdo pode ser iniciado pela apreciação da Lenda de Nossa Senhora da Escada, sobre a construção da Igreja Jesuítica da Freguesia de Nossa Senhora da Escada (1652), na cidade de Guararema. Outros exemplos como: patriarcas e barões do café que se tornaram “Corpo Seco”, evidenciando a necessidade de busca pela justiça que, provavelmente, não seria atingida no cotidiano real; infanticídio e o abandono de crianças recém-nascidas registrados na lenda da “Porca e os leitões”; a força da religiosidade católica na formação cultural brasileira retratada nas lendas “Procissão Fantasma”, “Missa da meia-noite”, “Mula – sem - cabeça” este mito de origem ibérica, permanece no folclore brasileiro e toma esta forma a mulher que é amante de padre. Castigo pela conduta contrária às regras da Igreja, sua origem estaria em medieval fato dos padres se utilizarem das mulas como meio de transporte considerando-as mais seguras e dóceis para dominar; veículos fantasmas e barulhos bélicos preservando a memória de revoltas políticas, a exemplo da Revolução Constitucionalista de 1932, são discreta amostra.
Uma experiência a ser considerada é o projeto Desvendando o Vale do Paraíba, desenvolvido na Escola Estadual Dr. Rui Rodrigues Dória:

“Desde 2010, o projeto Desvendando o Vale do Paraíba já realizou atividades e expedições para as cidades de: Bananal, Arapeí, São José do Barreiro, Silveiras e Areias (2010); Queluz, Cruzeiro e Lavrinhas (2011); Cunha, São Luiz do Paraitinga, Lagoinha e Redenção da Serra (2012). Foram visitadas e estudadas, ainda, Jacareí (MAV – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba) e Guararema (Recanto do Américo e Ilha Grande). Em 2013, as atividades e expedições contemplam as cidades de Piquete, Canas e Lorena.
Os objetivos do projeto são estabelecidos, anualmente, de acordo com os conteúdos trabalhados em sala de aula, nas disciplinas envolvidas, e que correspondam aos aspectos históricos de cada uma das cidades em questão. O projeto também oportuniza aos alunos conhecerem o patrimônio (humano, arquitetônico, cultural e ambiental) regional valeparaibano. A maioria dos alunos de nossa escola não conhecem as cidades próximas de São José dos Campos e descobrem, através do projeto, as questões históricas brasileiras que tiveram como palco o Vale do rio Paraíba do Sul."

A busca para um caminho mais atrativo para a aprendizagem passa também pela memória (individual e coletiva), ao mesmo tempo facilitando a aquisição de novos conhecimentos e valorizando as tradições culturais. 


Sônia Gabriel


Coluna Crônica Jornal de Caçapava: História e histórias que o povo conta no Vale do Paraíba - parte I



(Jornal de Caçapava, 16 de agosto de 2013.)

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os objetivos gerais da área de conhecimentos históricos preconizam o conhecimento e compreensão do universo em que vivem os alunos em famílias e em comunidades, numa perspectiva socioambiental, através da construção de repertórios histórico-culturais. A partir desses objetivos, ampliam-se as possibilidades de aprendizagem da disciplina História considerando-se o Vale do Paraíba palco dos principais fatos ocorridos no Brasil, protagonista da formação histórica nacional desde os primórdios da colonização, passando pela forte presença de bandeirantes, jesuítas, escravos, mineradores, barões, colonos, imigrantes, tropeiros, escritores, músicos, indígenas, presidentes, santos etc. A região é banhada pelo rio Paraíba do Sul, cortada pela rodovia Presidente Dutra, estrategicamente situada entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Entre a Serra da Mantiqueira e Serra do Mar, englobando 39 municípios. 
Às margens do rio Paraíba do Sul a história se constrói, com presença mestiça. Caminhando por suas margens, desbravando suas matas, alterando a paisagem, evidenciando os resultados do encontro entre negros africanos, europeus e indígenas. A ocupação da Bacia do rio Paraíba do Sul teve início no século XVI com o apresamento de indígenas que habitavam a região. A mão de obra indígena era utilizada nas lavouras de cana-de-açúcar, continuou a ampliação, com a exploração do trabalho dos escravos trazidos do continente africano, da ocupação durante os séculos XVII e XVIII com a busca do ouro. Deste período, o Vale do Paraíba guarda as trilhas e a Estrada Real, descaminhos e caminhos de escoação de ouro e pedras preciosas. Do final do século XVII e durante o século XIX reinou na economia valeparaibana, principalmente no Médio Vale do Paraíba, a produção cafeeira.
De caminho para as Minas Gerais, no período da mineração, ao intenso Ciclo do Café até o advento da tecnologia, a região resguarda patrimônios culturais, históricos, arquitetônicos e ambientais em suas dimensões materiais e imateriais. A Tradição Oral é o rico patrimônio de uma parcela da sociedade brasileira que, excluída da educação formal conseguiu, oralmente, durante séculos, perpetuarem as histórias contadas por seus antepassados, enriquecendo e preservando o imaginário coletivo de caiçaras e caipiras da terra brasilis. Imaginário construído por episódios históricos e cotidianos alimentados pela sensibilidade e religiosidade do interiorano.
Apesar de pouco encontrar referências ao Vale do Paraíba nos livros didáticos, adotados nas escolas, não se pode perder a oportunidade de trazer essa riqueza histórica e cultural para a sala de aula. A proximidade com o fato histórico é um dos grandes facilitadores para a aprendizagem. A historiadora Ana Enedi Prince resume: 

“As informações locais visam fornecer aos alunos a formação de um repertório intelectual e cultural, objetivando a possibilidade do estabelecimento de identidades e diferenças com outros indivíduos e com grupos sociais presentes na realidade vivida.” (PRINCE, 2006, p.12)

Neste contexto, não reconhecer a importância da Tradição Oral é avocar o risco de conhecer e legitimar apenas um lado da história, aquele em que o registro escrito, iconográfico foi possível. Nos relatos orais também há a riqueza de quem fez/faz história, mas nem sempre teve/tem voz. A linguagem das comunidades se manifesta por meio de palavras, danças, músicas, procissões, pinturas, comidas, artesanatos... As histórias contadas pelo povo são registros de tempos históricos nem sempre relatados nos livros didáticos. Com um olhar um pouco mais apurado é possível encontrar a busca pela justiça, a padronização de costumes, as transformações religiosas, culturais e sociais, é possível sentir o repúdio à desigualdade, à guerra, à destruição do meio ambiente.

(Continua)


Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Há vinte anos!



(Jornal de Caçapava, 02 de agosto de 2013.)

Pedi ao meu filho que retirasse todos os elementos de uma fotografia de meu casamento. “Só deixe seu pai e eu”. Ele achou graça e perguntou o motivo, não me lembro da resposta que dei na hora, mas senti que queria ver como começamos apenas os dois. Queria partir daquele momento, daquele ritual de passagem tão íntimo.
Dia 31 de julho de 1993, era um sábado; ventava intensamente, tanto que meu véu muito longo voava como se bailasse. Sempre o vento. Nas fotografias, a moça com sorriso juvenil nem se dava conta do frio julino mais absorvente que já havia presenciado. Foi uma noite definitiva, menina de olhar certeiro, eu acreditava que aquele ritual (amo rituais) seria o marco de uma vida toda, tinha certeza que aquele amor seria para sempre, que nada poderia ser maior que o amor que eu sentia. Jovens! Todas as certezas num segundo de olhar... Todas as convicções numa troca de alianças... A aliança, a todo instante eu a olhava para ter certeza... Mocidade!
Ora veja só, desta feita, a minha juventude estava certa. Já se vão vinte anos e achamos que passou muito rápido, rimos de nossas mudanças, saboreamos nossas vitórias, nos orgulhamos de nossas lutas e construção familiar. Queríamos ficar juntos e construímos desse querer uma família. Vivemos muito, passamos pela fase do planejamento, da autonomia, do domínio da própria vida; sobrevivemos à fase do repentino, da surpresa, da tristeza, da apreensão, das incertezas e permanecemos juntos. Nossos filhos são presentes para aqueles dois jovens que quiseram se unir, eles são certeza de que esse sentimento era o que sabíamos que era e é: Amor.
Nunca tive medo do amor,  nunca o vivi pela metade. Não tenho medida para amar. Dos arroubos sentimentais evolui para a maturidade de amar, mas confesso (mea culpa) paixão faz parte de meu íntimo. A vida pela vida, pacata sobrevivência não preenche minha alma, não faz sentido nem literário. E caminhamos juntos e sequer consigo imaginar minha vida sem ele. Não gosto da solidão, nem um pouco, nem para a faxina.
O amor tem essa interessante condição de nos fazer plenos e povoados mesmo quando sós. É confortante saber que ele vai chegar, que as crianças vão alvoroçar a casa; que teremos problemas, que comemoraremos soluções; que nas tardes calorentas sempre há o convite para um sorvete, que nos sábados frios, depois da feira e do almoço, podemos deitar no sofá, duelar com as crianças pelo maior, claro, e assistir filme na televisão. Sabemos que o tempo vai continuar passando, que nossos filhos vão continuar crescendo, que partirão, que viverão... E nós, bem, nós também... De minha parte, sempre conspiro com o universo para que minha vida seja sempre ao lado dele.


Sônia Gabriel



Um cordel para o MAV - Projeto Desvendando o Vale do Paraíba





Após visita ao MAV, os alunos produziram seus cordéis.
Um para curtirmos...















Visita ao MAV - 2013


Dentro das ações do Projeto Desvendando o Vale do Paraíba, eu e o professor Luiz Vagner levamos nossos alunos da E E Dr. Rui Rodrigues Dória para visitarem o Museu de Antropologia do Vale do Paraíba - Jacareí. Como nas visitas dos anos anteriores, a proposta é que os adolescentes conheçam o patrimônio cultural de nossa região. Relacionem os conteúdos do currículo oficial da rede pública com a riqueza histórica local. A partir da visita, produziram cordéis sobre o Museu. Como estratégia para a produção, os alunos tiveram acesso e apreciaram os cordéis publicados por Paulo Roxo Barja.
Agradecemos a organização das professoras Flávia Lima, Marciana Flausino e Daniela Santos.













Depois do MAV, aproveitamos para conhecer algumas lendas da cidade diante da Capela Nossa Senhora Aparecida.


De volta para a sala de aula, os alunos puderam apreciar os cordéis de Paulo Roxo Barja.

Continua...