domingo, 24 de fevereiro de 2013

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Outra vida.



(Jornal de Caçapava, 15 de fevereiro de 2013.)


   Alguns dias longe de casa, sem computador, sem televisão, sem rádio, sem celular. Que milagre! Perguntei ao meu filho se ele estava sentindo falta do aparato tecnológico, nem fez conta. Os dias cheios de visitas, abraços anosos guardados por muito tempo, gente chegando, gente saindo, gente fazendo questão e exalando gentileza.

   Ouço causos como o da porca com as tetas repletas; meu jovem tio, de bicicleta, seguiu-a para ver aonde ela iria, deu com um buraco, muito fundo, resultado de uma enxurrada devido tromba d’água. Sentiu medo, não se atreveu a continuar; aquele animal não era coisa deste mundo, não era mesmo! Tinha algo de estranho, de pavoroso. Diante da dúvida, usou da esperteza de seguir embora e quando chegou ao local de inicial destino, ficou sabendo que o doente que penava para morrer, na solidão da casa, havia perecido, mas com certeza, já estava assombrado, pois não havia praticado um só bem durante a vida.

   Como se contam histórias nessas noites de ventos sofisticados! Boa Vista, São João do Manteninha, já pertinho da terra verde, morros e pedras gigantes, almas poetizando vidas singelas, que ante olhos desavisados poderiam ser vazias. Não são! Aqui, nesse canto de gente vigiadeira de fatos, as árvores rezam, pois os homens andam descrentes. Mulheres puxam terço, elas não perdem a esperança. Rezam por seus homens, seus pais, seus irmãos e seus filhos. As mulheres rezam. As árvores também. O vento seca minha roupa no varal imenso, mesmo à noite, meu vestido vermelho, envelhecido de tanto uso, sacode as flores que Ludmila Saharovsky já determinou caírem formando um tapete, eu quase sinto o perfume delas impressas ali, em tecido insosso antes do desenhista. Depois do esforço de secar, o vento leva notícia minha para quem?

   Um lamento pela falta da chuva de dezembro. Ah! Não choveu no dia de Santa Luzia – não choveu – que será de nós? Pobre tia, tão preocupada com suas plantas e criação. A pedra não está jorrando água. A queda está vazia. Será que a porca passou por aqui? Que tristeza! Mas, a água que permanece, córrego fino, porém firme, mantém rude e frágil verde o pomar. A gente se alimenta, tem fruta guerreira de árvore rezadeira zelada por mulheres que puxam terço por seus homens, pais, irmãos e filhos.


Sônia Gabriel



                                                                                           São João do Manteninha - MG , 2013.



Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Prosa sobre gente de escola.


(Jornal de Caçapava, 08 de fevereiro de 2013.)

   Algumas ocorrências escolares me trouxeram para estas linhas. Há tempos venho escrevendo crônicas, sobre o cotidiano escolar, que pretendo organizar em livro. Nada acadêmico, nada para os manuais, nem para as estantes pedagógicas. Venho fazendo um passeio pelos anos de trabalho que tenho dedicado ao conhecimento e às pessoas. Proponho dialogar com quem está, esteve ou pretende estar em uma sala de aula, este simbólico lugar de encontros e embates, desafios e descobertas.

  Nas minhas lembranças, principalmente (lá se vão mais de dezoito anos de ofício), tento aperfeiçoar um olhar no dia-a-dia da escola; atenção ao detalhe, ao aparentemente insignificante, e, tenho conseguido polir muito das construções internas que movimento em mim sobre o que fazemos de nossos sonhos quando nos deparamos com os sonhos alheios.

  Quem atua em sala de aula (muitos diriam enfrentam) é cidadão como os que ocupam as carteiras escolares, apertam o sinal, organizam os corredores, atendem na secretaria, servem a merenda... É pessoa que obstante seus títulos e diplomas luta pela vida e muitos pelo essencial para sobreviver. Já assisti professores brigarem com a gestão escolar para poderem comer merenda junto com os alunos, pois o que recebem não dá para almoçar em restaurante. O conhecimento que alimenta suas almas pode pouco diante da escassez de valor, reconhecimento e ética. A aura que reluzia a profissão do saber anda necessitando de brilho, de zelo. Diante de tanto vazio, o professor parece se deixar levar pelas diversas interpretações do que deveria ser, sendo ele tão pouco sabedor do que é.

  Somos todos educadores (é a nova máxima), mas há que se considerar nossa profissão de professores, se para ela nos preparamos. Não tenho conseguido identificar um posicionamento filosófico em muitos professores. Talvez, o meu também esteja desgastado, com falta de manutenção. Mas, como imaginar alguém querendo ensinar, desvendar conhecimento sem saber-se? Creio que sermos todos educadores esteja colaborando com aqueles que estão na profissão e não são da profissão (como já colaborou por má aplicação e entendimento o Construtivismo). Caminhar no discurso vazio, inconsequente e superficial é muito oportuno para os que beberam na formação inadequada e lhes servem o salário que a tantos outros profissionais indigna. Parece ser até muito, pois nada se comprometem com aqueles que sacrificados pelos impostos lhes permitem ao menos receber um hollerit.

  Nesse microcosmo didático de alunos e professores respiram pessoas que espalharão seu ar no infinito de seus horizontes, urge saber que o exemplo ensina capciosamente mais que as palavras e atividades pedagógicas. O exemplo nos denuncia, nos evidencia e nos oferece acento no alheio julgamento de nós. Quem somos, por essência, sempre escapa, transpira por nossos poros, mesmo que tenhamos o talento de principal ator da companhia. E, por mais que subestimemos a capacidade reflexiva de outrem, há aqueles, discentes que sejam, que podem e refletem.

  Não sou discípula dos modismos da Educação, estudo muito para aprender e exerço minha profissão com muita seriedade. Certa vez, o historiador Cláudio Bertolli Filho disse que eu “não tinha cabeça de canequinha”, parece que acreditei e tenho muita responsabilidade com meu trabalho. De vez em quando, me abato, chego a ter medo de dizer que gosto do que faço, haja vista que preciso evitar os "hematomas" em minha nada gloriosa carcaça, mas há sempre um cantinho das salas de professores do mundo aonde a gente fala sobre Educação. O ânimo se regenera. Lembramos-nos que somos iguais e nos voltamos para os olhos que em nós sempre buscam algo, mesmo que estejamos incapacitados de notar.


Sônia Gabriel


Coluna Crônica Jornal de Caçapava: A Moça das Saias Coloridas.


(Jornal de Caçapava, 22 de fevereiro de 2013.)


     Zenilda Lua nasceu em Patos, na Paraíba, em nordestinos vinte e três de janeiro de 1971. Nasceu para a poesia, mas nunca fugiu de suas outras sinas, nenhuma delas. Mulher guerreira e batalhadora sabe viver a fina flor do que nos faz mulheres, secretamente entranhado nas linhas de sua escrita. Há que ler para entender.

    Em 1992, veio para São José dos Campos, veio para o amor, para o trabalho, para os amigos, para tornar o cinza mais colorido e mais vibrante como suas saias rodadas: elegantes e finas como sua arte. Veio ser a poesia que sempre foi. Quando nosso encontro extrapolou as linhas, tive a satisfação de participar de dias mais amenos, manhãs mais domésticas e fins de tarde pesquisados em nossos sonhos de trabalho revigorante, de descobertas literárias que não escapem ao humano, pois nós gostamos de gente. E, é difícil gostar de gente, é trabalhoso aprender a respeitar a diversidade, é custoso ver-se no outro, mas Zenilda Lua o faz tão tranquilamente, tão poeticamente, que às vezes fica difícil saber se algum dia, sequer, ela tenha olhado para a vida, tenha respirado o mundo sem o oxigênio lírico. Será?

   Sim, nós temos A Moça das Saias Coloridas e já não é possível imaginar essas ruas joseenses sem a cor de suas saias. Já não podemos supor as praças sem seus saraus, os encontros sem seus abraços, sem seus acalantos, sem sua disposição constante.

   Nesta cidade tão distinta, tão agigantando-se, uma migrante nordestina nos faz mais próximos, mais amigos, mais humildes em nossas angústias, mais fortalecidos em nossos sonhos. Nesta cidade que ‘anseiam’ tão tecnológica, ela, poetisa, nos oferece uma inspiração bucólica, cheia de perfumes, sons e agrados sertanejos. Tudo combina tão bem com o asfalto histórico simbólico que tão poucos... Deixemos...

   Há muito tempo venho tentando lapidar letras à altura da generosidade poética e humana de Zenilda Lua, não sei fazê-lo a contento; não me atrevo à crítica, não quis desistir; resolvi apenas prosear com sua poesia, reli, reli, reli. Na incompetência de lhe dizer o quanto significa para todos nós, recorro à suas letras, que jeito melhor?


Quimera 77

“Destilada a seiva
e a memória latejando o peito:
Pai, Bênção!
Pai, reza comigo!
Pai, apaga a luz!
E aquela voz de sítio molhado
chegava crua num assobio singelo:
_ Tô indo, Fia!”



Zenilda Lua é autora de Alfazema (2007) e Aparador de Quimeras ( 2011).


Sônia Gabriel


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Cordel - Corpo Seco


Corpo Seco - de Diego Fernando, Gabrielle Caroline, Fernanda Gabriela e Sara.
Este é o Cordel que os talentosos fizeram, vejam se não é uma graça...
Paulo Barja, será que os meninos estão começando bem?

Eu adorei!
Obrigada, meninos!
Sônia Gabriel