terça-feira, 10 de maio de 2011

Coluna Crônica Jornal de Caçapava: Minha Mãe.

 (Jornal de Caçapava, 06 de maio de 2011.)


Neste mês fala-se, fotografa-se, escreve-se, canta-se e presenteia-se a mãe. Em tempos do politicamente correto (seja lá o que queira realmente dizer isso, maravilhas da linguagem!), está cada vez mais difícil fazer considerações sobre este papel de forma biológica ou social. Sendo assim, falarei de meu coração. Quero lhes contar sobre minha mãe. Não estou avaliando a maternidade, considerando seus aspectos antropológicos, históricos e químicos. Apenas vou lhes contar sobre a minha mãe, a única mãe sobre quem recaí minhas angústias, afeições e julgamento, pois nós, filhos, ainda acreditamos em nossos anseios de julgá-las. Somos filhos, e apenas, diante da força desta palavrinha tão surreal.
Minha mãe se casou muito jovem, como era costume, aos dezoito anos. Aos dezenove, já me aguardava nascer. Meus pais eram sitiantes, lavradores, mas minha mãe sempre foi altiva. Criada sem apanhar por seus pais, ela ‘bebia fôlego’ e minha avó, cautelosa, lhe concedia certos mimos. A moça cresceu um tanto quanto temperamental, dizia meu pai. Eu nasci em casa, a parteira me aparou, mamei em uma ama, pois minha mãe demorou um pouco para conseguir fazer descer o leite.
Depois de mim, eles vieram morar na cidade. Deixaram o campo para trás e nas lembranças de minhas veias. Aqui, na cidade, nasceram meus três irmãos. A sobrevivência não foi fácil para meus pais, o trabalho lhes fez companhia todos os dias de suas vidas, minha mãe sempre fragilizada por suas dores, por seus sonhos de mãe zelosa que não podia realizá-los aos seus rebentos. Nossa casa simples estava sempre limpa e organizada. Nós éramos educados na ordem, na religião e na educação. Filhos que se calavam quando seus pais falavam, que entravam para o quintal quando chamados, e os resmungos que fossem apenas no pensamento.
Meu pai partiu muito cedo, sua morte nos legou solidão ainda sentida. Minha mãe, aos trinta e três anos e quatro filhos para terminar de criar, assumiu seu papel. Foi mãe. Neste novo momento de nossas vidas, já não a ouvíamos reclamar de dores, o trabalho constante se tornou mais árduo, nossa educação mais rígida. A responsabilidade, mais evidente em seu comportamento, nos dava exemplo de comprometimento, de fé e de seu amor por nós.
Minha mãe não engendrava para nos deixar e sair só, ainda me lembro de ouvi-la dizer a uma amiga que não havia lugar aonde fosse, que não pudesse levar junto seus filhos. Como filha, estufei o peito de orgulho, naquele dia.  Bonita, jovem e alegre, assim se manteve, não passava o tempo dizendo que abdicava de uma vida livre para nos criar, jamais proferiu tais palavras diante de nós; manteve-nos, os quatro, ao seu lado, mesmo tendo parentes querendo lhe auxiliar, ficando com um de nós. Permanece em nossos ouvidos sua frase: ‘Filho a gente tem que criar, nem que seja com água e fubá’. E assim foi.
Estamos todos bem. Criados, formados, casados e obrigados, pelo coração, a zelar sempre por ela. Ainda bela e animada, ri, marota, quando perguntamos por que não se casou novamente, se a atrapalhamos. Festeira, apaixonada pelos netos, minha mãe gosta de estar conosco. Independente, viaja muito, e faz falta. Sentimos saudades de sua prosa, de sua alegria, de sua comida tão gostosa e acolhedora. Quando está triste, tudo também se entristece. De quando em quando, nos pegamos contando suas proezas, seus talentos e seus exemplos.
Minha mãe não foi a melhor mãe do mundo todos os dias, não é perfeita, não nos encheu de mimos e muito menos viveu a passar a mão em nossas cabeças. Foi nossa MÃE. Eu agradeço a Deus, todos os dias, por ser ela quem nos deu a vida e vive conosco.


Minha mãe comigo no colo, minha avó materna e madrinha Flausina, meu avô materno e padrinho Antônio e minha tia Alverina. Foto feita em 1972, pouco antes de sairmos de MG  e nos instalarmos em São José dos Campos - SP.
Olha a carinha séria da menina, sempre fui brava pelo jeito.

Paz e bem!
Sônia Gabriel



Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns Sônia pelo trabalho que realiza. Quero dizer que quase chorei, vendo a foto de meus pais, sua mãe com você no colo e a Alverina. Meu Deus, como o tempo passa!

Abraços!
Agnelo