domingo, 21 de dezembro de 2008

Coluna Crônicas Jornal Valeparaibano: Aceitar o Outro



Aceitar o outro


(Publicado no Jornal Valeparaibano em 20/04/2005)



Já parou para pensar se você realmente aceita o outro? Não estou falando do outro seu parente, seu vizinho, seu amigo. Estou me referindo aos outros. O outro que pensa diferente de você, que ama diferente, que vislumbra diferente.

Pôr-se no lugar do outro é uma das tarefas mais dificultadas pelo ser humano. Ser mais real que o rei parece ser uma tendência que nos persegue. Por que nós somos mais importantes que os outros? Por que só nós somos os mais bonitos, os mais capazes? Até que ponto podemos sucumbir tanto a uma sociedade tão individualista? Qual a dificuldade em aceitar as próprias limitações? Por que a angústia de ser evidente sempre?

Não precisa. O que você é, faz, pensa, está sempre visível, não somos tão artistas assim para nos ocultarmos constantemente, e contrariando nossa vontade suprema da soberania, deixamos transparecer e muito nossos valores, nossos defeitos, enfim nosso eu.

Me desculpem os especialistas mas para uma sociedade mais sã não precisa muito: ama teu próximo como a ti mesmo! Não precisa amar nas conceituações de amor pré-estabelecidas pela modernidade. A palavra chave é: respeito. Respeito pelo outro, respeito pela Terra, respeito por si próprio.

Não está na moda ponderar. Vemos de tudo: tem gente que precisa ser do contra, não interessa contra quem ou contra o que, tem gente que não aceita quem é do contra. Tem gente que tem um otimismo exacerbado beirando ao patético, tem gente que não acredita em tanta boa vontade assim.

Difícil? Não. Respeito!

Somos seres humanos, isso implica uma massa cinzenta desenvolvida capaz de encontrar soluções, capaz de criar, capaz de uma inventabilidade divina. Somos pessoas: temos alma, coração, sentimos. Não é possível não conseguir se colocar no lugar do outro, se nós também somos o outro deles.

O homem é impressionantemente capaz de dificultar a arte de ser feliz. Ser feliz é simples. Basta se lembrar dos momentos realmente felizes de sua vida para comprovar essa hipótese.

Sorrir, sinceramente, para os outros não nos machuca. Valorizar o que o outro tem de bom não pode nos mortificar. Ser infeliz e disseminar a ironia, tristezas, dá muito trabalho. Deve ser um gasto de energia!

Olhe para o outro sem a tela do preconceito e da superioridade, veja o outro, ponha-se em seu lugar, nem é tão difícil. Tenho exercitado, caio aqui, levanto ali, mas tenho me tornado uma pessoa melhor. Vale a pena.


Sônia Gabriel, São José dos Campos é historiadora e pesquisadora.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Para Guardar: Rita Elisa Sêda

Rita Elisa, não sou uma fotógrafa como você. Nem imagino ilustrar uma poesia tão linda, apenas desejei demonstrar o quanto suas palavras me tocaram o coração. Este foi sem dúvida o mais belo presente que esta criança poderia receber, a mãe está emocionada.
Paz e bem!
Sônia Gabriel


Mistérios de Sônia

(para Sônia Gabriel)

Batem dois corações no mesmo corpo,
No comando de um Maestro, uma orquestra de amor.
Os corações batem em ritmos diferentes,
E ao mesmo tempo são somente um.
Um pulsa rápido, recebe a vida,
O outro pulsa normal e dá a vida.
Um quer conhecer o mundo,
O outro lhe dá essa oportunidade.

Há música por todo lado,
Só quem a ouve sabe os Mistérios da maternidade.

Leva-se certo tempo para esse aprendizado.
Depois... depois vem o desmembramento físico
Vem o choro, vem a respiração, vem a amamentação.
Dois corpos separados serão transformados,
Um nutre, o outro é nutrido. E vice-versa!
Mas o que mantém o crescimento de ambos
É o espírito formado,
Esse... não há separação!

Rita Elisa Seda

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Opinião: A Volta do Sonho


A Volta do Sonho

(Publicado no Jornal Valeparaibano em 15/09/2004)

A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa evidente a influência dos grandes movimentos educacionais internacionais, da mesma forma que expressam as especificidades de nossa história política, social e cultural, a cada período em que são consideradas. A história do Brasil já vivenciou inúmeras mudanças: iniciamos com uma pedagogia elitista própria para aqueles que a criaram, passamos por uma pedagogia renovada, sobrevivemos ao tecnicismo educacional que coexistia com a interrompida (pelo Golpe de 64) pedagogia libertadora. As evidentes transformações sociais e principalmente econômicas, pois além da preocupação com o ser estava a preocupação de conservar padrões sociais estabelecidos e preparar trabalhadores para servirem as máquinas, nos direcionam para uma nova tendência: a da pedagogia empreendedora.

A evolução da nova escola passando pelo posicionamento filosófico de uma educação Construtivista, vislumbrada por alguns teóricos como Construtiva, só poderia caminhar para o fazer e principalmente para o saber fazer.

A conotação política do Empreendedorismo é óbvia, haja vista a quantidade de profissionais qualificados que não conseguem entrar no mercado de trabalho, as profissões que estão deixando de existir ou então se transformando. Quantos empregos o atual governo já conseguiu gerar dos milhões prometidos? A criatividade, a iniciativa e a autonomia serão as características essenciais para a nova geração.

É a volta do sonho. Aquilo que a escola e a sociedade produtiva capitalista nos tiravam, por acreditar ser sinal de preguiça, alienação, terá que ser, por nós, ensinado.Um tempo para sonhar. Só quem sonha é capaz de criar, o sonho é ferramenta básica para empreender.

Sônia Gabriel,pesquisadora e educadora em São José.

Um pouco sobre Educação...


Problemas da Educação

(Publicado no Jornal Valeparaibano em 18/06/2004)

Segundo a Educadora Guiomar Namo de Mello, os problemas da educação brasileira passam por uma cultura escolar elitista, pela falta de visão estratégica por parte do governo, pela gestão pública ineficiente que gera uma falta de fiscalização das políticas públicas voltadas para a educação; a educadora enumera ainda a falta de aprofundamento por parte das mídias no Brasil quando o tema é a escola e as tendências educativas, e questiona os interesses corporativistas e a estrutura precária de formação do educador.
Nada de novo, mas a coragem de novamente bater em todas essas teclas é nobre. Todas essas questões são as mesmas que anos após anos os estudiosos e educadores sérios levam para suas salas de aula, mas eles são poucos. Todas as questões estudadas e largamente debatidas são de profunda pertinência, mas ainda penso que as mais relevantes das pertinentes se referem à formação de educadores e a visão elitista da escola.
Os mecanismos de verificação que o governo criou para desvendar a qualidade do ensino superior não são eficazes, e no que tange a cursos de licenciatura precisam ser revistos, modificados principalmente em relação aos professores universitários
Mestres que nunca entraram em uma sala de aula dos ensinos fundamental e médio, que conhecem a realidade de professores e alunos apenas dos livros e programas de televisão não podem nos ajudar a encontrar soluções reais para nosso cotidiano. Quem está na linha de frente quer ouvir respostas e está disposto a procurar por elas e até mesmo construí-las se esse é o fato, mas necessitam de auxílio. Precisamos de mestres que saibam do que estão falando, que compreendam a essência do pensamento pedagógico, que sejam capazes de discernir o novo do modismo inconseqüente. A reforma será bem feita se começar por aqueles que mexem com nossas cabeças e emoções, ensinar é algo vivo, mexemos com cabeças e emoções o tempo todo.
O conhecimento é mais que um punhado de títulos, de preferência que venha acompanhado, também de verdade. Todos os outros problemas da educação poderão ser compreendidos melhor pelos profissionais do ensino quando estes forem formados com uma visão de mundo que os permita compreenderem-se, compreenderem seu mundo, compreenderem o mundo do aluno e o próprio, com verdade.
Os educadores brasileiros que enxergaram a realidade e não se amedrontaram diante dela, nem se esconderam atrás de sua autoridade intocável de mestres, conseguiram ao menos dar sentido a sua profissão. Penso muito em Paulo Freire quando o desânimo bate, sua vida profissional teve sentido, longe de um apostolado, como muitos afirmam, vejo nele uma coerência profissional.
Eu não posso escolher os alunos que terei, são pessoas, serão sempre eles próprios, com suas alegrias e mazelas, com seus talentos e dificuldades, mas posso escolher o educador que serei, podemos todos fazer a diferença, e ainda acredito, como um João Batista gritando no deserto, continuarei afirmando que é preciso ensinar antes de cobrar.

Sônia Gabriel, São José dos Campos.



Devido texto acima, fui convidada a participar do programa do jornalista Roberto Wagner, ele escreveu sobre o debate. Foi um grande aprendizado para mim.
Fonte: http://www.valeparaibano.com.br/, acesso em 10/12/2008.
"Conversa de Domingo
Roberto Wagner de Almeida
Ponto de Vista
Ainda a Questão da Educação
Há cerca de um mês, fiz aqui um comentário cético, sob o título "Brasil, Pátria da Ignorância". Baseava-me, então, em dados divulgados pelo próprio Ministério da Educação que, após a realização do SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, chegara a resultados estarrecedores. Por exemplo: 55,4% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental, tanto de escolas públicas quanto privadas, estão em situação "crítica" ou "muito crítica", significando que mal sabem ler ou escrever, pois "não compreendem textos simples". O mesmo SAEB constatou que 68,8% dos alunos da 3ª série e 57,1% da 8ª série estão em situação "crítica" ou "muito crítica" no que diz respeito à matemática, porque "não sabem fazer operação de soma ou subtração envolvida em um problema". Imagine-se o que aconteceria se tivessem que multiplicar ou dividir. Indaguei então, e volto a indagar agora, o que podemos esperar de um país cuja juventude se revela cada vez mais ignorante? Indaguei também como se explica que, embora todos reconheçamos que a educação é base fundamental na construção de um país, não haja um único governante nosso - do município à federação, passando pelos estados - que faça do ensino nas escolas a sua prioridade máxima.

Esse tema me preocupa tanto, que promovi, dias depois, em meu programa de entrevistas e debates no rádio, o "Show de Idéias", um debate a esse respeito. Tive como convidadas uma professora da rede estadual, Denise de Paula Costa, uma da rede municipal, Flávia Camargo, uma de escola particular, Sônia Gabriel, e uma psicopedagoga, Cecília França. Nenhuma pôs em dúvida a exatidão das constatações do SAEB, todas concordaram que a situação é realmente aquela apontada na avaliação nacional feita pelo Ministério da Educação. Ao longo das duas horas do programa, tivemos muita intervenção por parte dos ouvintes, com algumas contribuições muito significativas. O professor Gérson Munhoz dos Santos, por exemplo, que é professor universitário aposentado pela Unesp e foi membro do Conselho Estadual de Educação, questionou se não deveria ter sido feita uma experiência-piloto, com grupos pré-selecionados, antes que se adotasse o sistema de progressão continuada, em que o aluno é promovido de série mesmo sendo reprovado nos exames.
Admitiu-se que essa experiência-piloto teria sido conveniente, e ficou-se sabendo que o novo sistema foi introduzido com muito pouca explicação prévia às professoras que passariam a adotá-lo, e que elas jamais foram solicitadas a opinar sobre o que achavam dessa alteração, pois a decisão foi tomada de cima para baixo, sem possibilidade de discussão, muito menos de eventual contestação. Vale lembrar que, embora o sistema da progressão continuada tenha se tornado conhecido a partir do momento em que foi adotado em toda a rede pública estadual pelo ex-governador Mário Covas, sua introdução deveu-se ao renomado educador Paulo Freire, durante a gestão petista da prefeita Luiza Erundina em São Paulo. Soube-se também que o sistema vem sendo adotado na rede pública municipal de São José dos Campos desde 1996, antes de sua adoção na rede estadual. No geral, entretanto, as professoras admitem que o sistema é válido, na medida em que evita o mal maior que é a evasão escolar. Ou seja, é preferível manter na escola um aluno cuja aprendizagem pouco evolua, a ter que vê-lo abandoná-la devido a sucessivas reprovações, entregando-se à marginalidade das ruas.
Mas ficou claro, também, o inconformismo das professoras. Elas se queixam da constante alteração de métodos e programas baixados autoritariamente de cima para baixo, de tal forma que, segundo afirmaram, mal se pôde aferir o resultado de um e já se recebe ordem peremptória para que aquele seja abandonado para a adoção de outro. Mal remuneradas, as professoras têm que buscar emprego em diferentes escolas, públicas e privadas, restando pouco tempo para se dedicarem à reciclagem de conhecimento e ao próprio planejamento de suas aulas. Trabalham, principalmente na rede pública, com salas em que há sempre um número excessivo de estudantes, impossibilitando uma dedicação específica a alunos que apresentem dificuldade de aprendizagem. Citou-se o exemplo de uma escola estadual de São José onde há 350 alunos e uma única orientadora pedagógica, para os três períodos - manhã, tarde e noite. Se isso ocorre na segunda maior cidade do interior de São Paulo, imagine-se o que deve ocorrer no Norte e Nordeste do país.
A certa altura, mencionei os dados que acabavam de ser orgulhosamente divulgados pela Secretaria de Estado da Educação, com a presença do próprio governador Geraldo Alckmin, obtidos pelo Saresp - Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. Muito diferentes dos dados do SAEB, que incluíam as escolas paulistas, os do Saresp garantiam, por exemplo, que 53% dos alunos da 1ª série das escolas públicas do Estado de São Paulo já eram capazes de escrever "um texto coerente", percentual que aumentava para 75% entre os alunos da 2ª série. Questionadas, uma a uma, as quatro participantes do debate admitiram acreditar mais nos dados do SAEB que nos do Saresp, pois o que testemunham em seu dia-a-dia é aquela situação "crítica" ou "muito crítica" de alunos que, na 4ª série ainda mal sabem ler, escrever ou entender textos simples. Uma semana depois, o próprio Governo do Estado admitiu que os resultados do Saresp podem estar "maquiados", pois cometeu-se a ingenuidade de permitir que as mesmas professoras que aplicaram os testes lhes fizessem a correção. Quantas professoras, nesse caso, terão cuidado de arrumar os textos de seus alunos, para que elas próprias não ficassem suspeitas de ineficiência na prática do ensino?
Saí daquele debate com duas convicções. A primeira é de que há gente muito competente na área da Educação, impressão nítida que me deixaram as quatro convidadas do programa. A segunda é de que se faz necessária uma gestão menos centralizadora e menos autoritária por parte das autoridades da Educação, procurando discutir previamente com as professoras a adoção de novos programas, métodos e currículos, tanto quanto é necessário um esforço para reduzir o número de alunos por sala, pagar salários que não obriguem as profissionais a lecionar ininterruptamente de manhã à noite, e estabelecer sistemas de avaliação de desempenho das próprias professoras. Sim, porque elas também admitiram que há colegas que não têm a menor preocupação em se aperfeiçoar, que se colocam contra qualquer inovação e "embora sendo minoria, dão muito trabalho" - essa a exata expressão que ouvi."

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Para Guardar: Milton Mendonça


Continuando com meus achados, presentes em forma de palavras...

Leiam, vocês vão gostar muito.
Paz e bem!
Sônia Gabriel

Crônica publicada no Jornal Valeparaibano
03/07/2008

O retrato de Ludmila

Ao entrar no ateliê para mais uma seção de pintura, hoje pela manhã, a placa com os dizeres: livrai-me senhor dos abestados e dos atoleimados, que peguei emprestado de Hilda Hilst (Os dizeres, e não a placa, infelizmente não a conheci pessoalmente), que coloco em cima da porta para espantar os espíritos de porco, olhou-me alerta esperando me pegar desprevenido. Meu sorriso foi inevitável. Imaginei-a sentada na sala, encurvada sobre a mesa de tampo redondo e brilhante, escrevendo seus textos, a lucidez estalando, vibrando a sua volta como uma descarga elétrica, fazendo saltar todos aqueles que raso na suas intenções entravam desavisados em seu horizonte. Meu sorriso se estendeu, senti ímpeto de gargalhar. Por algum motivo, quando percebo aquela placa, que há anos está no mesmo lugar, o dia fica diferente, é como se algo bom fosse acontecer. O dia começara bem.
Alegre voltei meus olhos para a tela sobre o cavalete. Fazem mais de duas semanas que o retrato está sendo elaborado, pensei que terminaria em dez dias como os outros, mas não deu, este é diferente. Faz parte da série de convidadas que estou pintando. É o segundo da série. Convidei-as por serem especiais, são algumas das mulheres que se preocupam com a cultura joseense, todas se esforçam para, de uma maneira ou de outra, deixar o povo menos atoleimado e isso para mim é uma causa muito nobre.
Parei em frente ao cavalete e aqueles olhos verdes, enormes, irradiando inteligência me olharam inquiridores. Faltam apenas algumas pinceladas para terminar. Essa é a parte mais difícil. Como já sei o que fazer, termino rapidamente.
A arte consiste em saber finalizar. O propósito caminha até o ponto da concretização, não podemos ultrapassá-lo ou ele se perde caindo no caos. Assino, está pronto. Não posso mais acrescentar nada. Esta é uma regra que para o bem do meu equilíbrio mental não quebro em hipótese alguma. É a minha gravidade.
Coloquei meus óculos para enxergar de longe e analisei o quadro com cuidado. Fiquei feliz por ter assinado assim que me sento, outra alternativa para construir a mão surge espontânea em minha imaginação, mas não sinto vontade de pegar o pincel. A força descomunal que me fez pintar aquele retrato extinguiu-se. Sinto-me tranqüilo e espantado por ter conseguido terminar. É uma sensação extremamente agradável apesar de contraditórias.
A luz da lanterna que o interlocutor joga sobre o rosto da sacerdotisa que me olha da tela, se espalha para todos os lados chocando-se e refletindo, voltando a chocar-se até criar a imagem que estou vendo, ela é única exatamente por só poder ser vista por mim. Sabemos que a luz só é percebida quando incide diretamente sobre a pupila, somente eu posso vê-la, portanto, preciso ser honesto na hora de retrata-la. Calculo os possíveis ângulos da luz rapidamente, poderia ter colocado mais sombra ali, mais luz acolá, percebo incomodado, mas não sinto vontade de me levantar, está terminado. No próximo acrescento, prometo cansado, sei que este é apenas um estudo.
Quando recebi a foto que ela me mandou, fiquei preocupado, era um close. Como colocar aquele rosto em uma tela cinqüenta por setenta? - perguntei-me ansioso. A sacerdotisa pagã, meio Celta, meio cigana veio a minha mente quase imediatamente. A Ludmila é assim: uma sacerdotisa do século 12, obrigada a viver no século 21 por força do tempo que não pára.
Não gosto de fazer retrato baseado em fotografia. A fotografia é uma arte por si só, essa tal de releitura é um negócio que ainda não digeri direito. Sempre imagino estar em frente ao modelo - claro que tem exceção - o primeiro retrato desta série, o da Sônia Gabriel, por exemplo, copiei descaradamente da foto. O fotógrafo, apesar de ter recém entrado na adolescência, conseguiu captar a luz ideal, um verdadeiro olhar de gênio.
Pretendo pintar nove telas, ou quase isso, minhas convidadas são arredias e, como demorei em criar coragem para expor minha arte ao público, sou um senhor desconhecido e isto espanta os colaboradores. Infelizmente o ser humano gosta mesmo é de acompanhar a opinião da maioria. Faz parte da genética acho. Lembranças de aventuras imemoriais. Deu certo com um é provável que de certo com muitos - algo assim.
A calma invade meu corpo e saboreio a visão do retrato por um longo tempo. Será que ela vai gostar? - pergunto-me preocupado mas logo afasto a duvida. Ela me deu carta branca, não poderá reclamar. Mas não creio que emitirá sua opinião, se contentará com um franzir de nariz ou um comentário sarcástico sobre a minha idealização, não espero mais que isso. Estou satisfeito.
Levanto-me e vou a procura da máquina fotográfica. Ela será a primeira a receber a imagem. Uma pequena deferência pelo imenso prazer que me proporcionou.

MILTON TEIXEIRA MENDONÇA é artista plástico.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sílvio Ferreira Leite: Letrista

O escritor você já conhece, agora conheça o letrista:

Se você quer conhecer meu trabalho de letrista de MPB, na voz do cantor e compositor Sandro Zamá, acesse:

www.myspace.com/sandrozama

domingo, 2 de novembro de 2008

Participação no curso Crônicas...


Amigos e amigas, participei, esta semana, de um momento cultural delicioso.
No curso Crônica: o tempo da palavra, dentro do projeto Escrevivendo, da aula de Rita Elisa Sêda.
O encontro foi no auditório da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
Foi emocionante ouvir os alunos do curso lendo minhas crônicas, uma sensação diferente de quando nós mesmos realizamos as leituras. Trocamos idéias, palavras e uma energia muito positiva a respeito da vontade de escrever... Tudo perfeito. Algumas fotos enviadas por Rita Elisa Sêda...









Em produtiva e positiva sintonia. Rita Elisa Sêda e Dyrce Araújo, alguém quer mais?
Paz e bem!
Sônia Gabriel

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Coluna Crônicas Jornal Valeparaibano - O Milagre da Espera.


O Milagre da Espera

(Publicada no Jornal Valeparaibano em 30/10/2008)


Milagre é uma definição subjetiva demais. Muitos vivem a espera de um milagre, alguns afirmam que eles acontecem a todo o momento e uma parcela extremamente considerável defende que eles não existem.

E eu?
Milagre é substantivo masculino e levando-se em conta diferentes dicionários, podemos concluir que o conceito explica aquilo que é raro, um fato maravilhoso onde acontece toda suspensão das leis naturais, um milagre é operado por forças sobrenaturais.
Não é fácil acreditar em milagres, é preciso um esforço muito grande, é necessário abrir mão de convicções enraizadas na razão. É fundamental sentir e acreditar demais e já não temos tanta facilidade em tal proeza.

Se eu acredito em milagres?
Só nos preocupamos com milagres quando nada mais podemos tentar, quando as explicações não se justificam, só vemos os milagres cotidianos quando o tempo não é mais essencial na desenvoltura de nossas vaidades particulares e sociais.
Não há melhor época para pensar em milagres do que na primavera, durante esta estação, eles estão aflorados, os micros milagres do renascer, renovar, do verde cobrindo o cinzento de até então, da luz se propagando até o mais íntimo dos cantos escuros que insistimos em manter. São breves meses para tanta transição, do silêncio vazio para a alegria barulhenta dos bichos e das pessoas felizes, das angústias solitárias, encolhidas em busca de se aquecerem para a confraternização das horas mais lentas com aqueles que nos fazem bem e são brisa refrescante.

E os milagres?
Acordar e ter vontade de abrir a janela, respirar fundo e encher os pulmões de esperança, vê-los dormindo, descansando e saber que não estou só. Caminhar pela casa e sorrir só para mim, sabendo que tudo é possível mesmo que eu não possa nada. Só esperar.
Meu silêncio foi humilde oferta, dízimo para a natureza que quis me presentear. Entender, eu ainda não entendi, não sei explicar. Minha alma e ventre cheios de vida mesmo diante da impossibilidade que me é imposta é um milagre? É o que me dizem quando ficam sabendo.

Eu?
Nada sei, não posso viver a espera de um milagre, mas estou vivendo a cada dia o milagre da espera, como já vivi há dez anos e sou feliz. Acolho meu presente todas as manhãs com um afago e um abraço e a cada dia seu abraço me alcança mais.
Decidi diante desta surpresa da natureza não mais me angustiar com o que não posso decidir. Estou cuidando de meu presente e o amando a cada dia com a confiança do que é eterno. Está no brilho dos meus olhos a evidente felicidade de estar habitada.

Sônia Gabriel

Coluna Memória - Mistérios de São José dos Campos.

Saiu no Jornal Valeparaibano, nesta terça-feira (28/10/2008), uma matéria sobre os Mistérios de São José dos Campos. Contei alguns que aprendi durante a pesquisa para o livro Mistérios do Vale. Se tiverem oportunidade, leiam. Para quem não tem acesso ao jornal é só entrar no site: http://www.valeparaibano.com.br/.

Paz e bem!
Sônia Gabriel

Matéria
Coluna Memória, acesso em 12/11/2008.
Quem já não teve medo de dormir sozinho depois de escutar uma daquelas histórias de prédios e locais mal assombrados? Transmitidas de geração para geração, as lendas urbanas estão presentes na história de alguns prédios de São José dos Campos e, muitas vezes, são utilizadas como ferramenta para contar as características de uma época. "É algo que provavelmente nunca vai morrer. Essas histórias se mantém mais vivas entre as crianças e os idosos e é do encontro dessas duas gerações que conseguimos manter viva essa oralidade", afirma Sônia Gabriel, pesquisadora de manifestações culturais populares.Um dos prédios joseenses que guarda essas histórias é o Teatro Municipal. Segundo Sônia, funcionários e técnicos do local afirmam escutar barulhos misteriosos nas cochias. "Também há relatos de que luzes se acendem e apagam de repente e poderiam ser a presença de antigos artistas ou visitantes que passaram pelo teatro", conta.Duas escolas de São José, no bairro Santana, também guardam histórias misteriosas. Uma delas é a Escola Rui Dória, na qual os estudantes contam que uma freira assombra o local andando à noite com uma lanterna ou uma lamparina na mão. "Diz a lenda que ela não gostava que deixassem as luzes acesas, por isso saía apagando", lembra Sônia.A figura da freira surgiu, segundo a pesquisadora, porque o prédio já abrigou uma Escola Paroquial com cursos noturnos. "É conhecida como o 'Fantasma da Freira'".Já a Escola Santa Paraíba, também em Santana, é conhecida pela assombração de índios. Segundo a lenda, o prédio já teria funcionado como um cemitério de índios. "É um prédio muito antigo e os estudantes ouvem esses barulhos", conta a pesquisadora.Ainda sobre o bairro Santana, Sônia lembra da lenda de Nhá Ritinha, que morreu em um antigo casarão do bairro. De acordo com a história, o pai de Nhá Ritinha, conhecido como Nhô Chico, providenciou um casamento para a jovem quando ela tinha 14 anos. A menina se casou com um dono de tropas de mulas e, insatisfeita com os maus tratos e a agressividade do marido, resolveu voltar para a casa do pai que, para surpresa da sociedade da época, a aceitou de volta. "Para afastá-la da cidade, o pai construiu um casarão na região de Santana, onde a jovem acabou morrendo de tristeza, debruçada na sacada do sobrado", conta Sônia.Anos depois da morte de Nhá Ritinha, moradores do bairro diziam ver, no final de tardes cinzentas, a mulher debruçada na sacada do casarão, com a mesma juventude de seus 14 anos.A pesquisadora também conta que a construção da Igreja São Benedito está relacionada a uma antiga lenda. O responsável pela obra, em meados de 1870, se chamava Zé Taipeiro. "Dizem que, por falta de dinheiro, a construção teve que parar várias vezes e a igreja chegou a ser inaugurada sem ser terminada".A lenda em torno da construção do prédio conta que um lavrador conhecido como João Ribeiro, do bairro Jaguari, estava reformando um velho casarão quando, ao quebrar uma das paredes, descobriu um panelão de barro enterrado com muitas barras de ouro. Diante da sorte, Sônia conta que o homem resolveu agradecer a Deus por meio da doação do dinheiro para o término da construção da igreja.
SÃO FRANCISCO - No distrito de São Francisco Xavier, a lenda não gira em torno de um prédio, mas sim de dois vultos de padres. Um deles, que teria sido assassinado por uma mulher como vingança, já foi visto por moradores em sua cadeira de balanço na casa em que morava na rua 13 de Maio. O outro padre que, segundo a lenda, tinha origem espanhola, continua rezando um terço durante as noites em busca de uma imagem perdida de São Francisco Xavier.

sábado, 25 de outubro de 2008

Um Vale de Livros: Conceição Molinaro

Continuando com nosso Um Vale de Livros, vamos anotar os livros da Conceição Molinaro.

Tive o prazer de conhecer a Conceição Molinaro, há alguns anos, num evento em Lorena e ficamos apaixonados (eu e o André) pelos livros dela. Primeiro, pela riqueza de sua pesquisa e claro, pela beleza de sua escrita. Abaixo algumas capas para vocês ficarem com aquela "agüinha" na boca e loucos para serem crianças novamente. Conceição Molinaro escreve sobre a turma do Sítio do Picapau Amarelo. A danadinha tem o privilégio de morar próximo ao Sítio do Visconde, lá mesmo! Em Taubaté, imaginem...
Leiam, dividam com adultos e crianças as aventuras que ela tão bem cria. Seus livros são um presente para cada um de nós.
E a pessoa da Conceição Molinaro é de uma beleza que vale a pena desfrutar.
Saibam mais sobre nossa escritora no:

www.concemolinaro.com

Há um link ao lado também, seus livros são encontrados em todas as livrarias, são publicados pela Editora Globo. Contato com a autora: concemolinaro@netscap.net.
Divirtam-se...




quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Crônica: A menina mais bonita do mundo

(Tarde de chuva. Foto minha, Conceição dos Ouros -MG, em 2008)

“A Menina mais bonita do mundo”

Quando tive a notícia que a primeira de meus sobrinhos (ao menos filhos de meus irmãos) tinha nascido, lhe desejei como presente, que fosse forte e decidida, pois este mundo ainda deve muito às mulheres.
E como nos contos de fadas quando elas presenteiam, elas o fazem mesmo.

Thais, “a Menina mais bonita do mundo”, é assim mesmo: forte e decidida, mesmo aos cinco anos de idade, e como é interessante observá-la.

Como qualquer ser humano que ama os seus, sei de seus defeitos, mas suas qualidades também gritam.

Thais reinou absoluta ao lado do primo até há algum tempo, todas as atenções eram apenas para os dois, daí começaram a chegar os primos menores, literalmente; a família foi crescendo, mas seu espaço tomou rumo inverso. Ela tem lutado para se manter e o faz com muita determinação e charme.Inventa brincadeiras, propõe diferentes estratégias de diversão, mas os meninos não têm se interessado.
Pensa que ela se joga num canto e lamenta? Que nada! Chama quem estiver por perto, insiste, junta os lábios naquele famoso bico vermelho contrastando com a pele alvíssima, de bochechas rosadas, cabelos longos (de tanto ela comer couve) e olhos verdes ou azuis, nunca dá para saber com exatidão. Eu disse, ela é “a Menina mais bonita do mundo”.

Em suas investidas para arrumar alguém para brincar na sua família paterna, tenho exercitado minhas histórias. Já lhe emprestei colar com cristal mágico, ela é muito vaidosa, como toda bailarina, minha pequena Ana Botafogo. Já lhe revelei que a pequena mata próxima de minha casa é repleta de cucas, caiporas, sacis, príncipes e princesas, cavaleiros, fadas e ogros.Seus olhos brilham, ela escuta e exige silêncio dos meninos.

Mas da última vez foi muito interessante. Semana passada, estávamos numa reunião em minha casa, ela visivelmente contrariada com os meninos. Não a deixavam brincar, os tolinhos. Não tinha brinquedo para ela, eu tinha que dar um jeito, ela determinou. Sentou-se no sofá próximo ao aparador e cruzou os braços. Sentei ao lado, fiz cara de quem estava inventando coisa, estiquei o braço até o aparador e peguei uma chave antiga e um candeeiro, ambos presentes de uma fada. Fiz gesto de silêncio, afinal ali se revelaria um segredo. Aproximei-me dela e falei baixinho: “Pegue a chave assim, com mãos firmes, veja a fechadura no ar, olhe bem, ela está aqui na nossa frente, abra a fechadura, assopre o candeeiro uma única vez, forte. Pronto, a porta se abriu, está vendo? Estão todos ai: fadas, gnomos,animais falantes, reis e rainhas...”.

Seus olhos se arregalaram, ela tomou a chave de minhas mãos e respondeu baixinho: “Estou vendo”. Nisso vieram os meninos correndo, se jogando pelo tapete, se embolando em combates e ela se distraiu e se aborreceu, colocou a chave e o candeeiro no aparador e sentou com bico e tudo no sofá.

Perguntei se queria que eu convidasse a filha da vizinha para brincar com ela, afinal têm quase a mesma idade, ela aceitou, a amiguinha veio trazendo um baú de bonecas e pensei que não dava para concorrer com a Barbie para sempre.

Quando já estava saindo da sala e levando os meninos para outro cômodo para que elas tivessem espaço para brincar, a vi levantar-se ligeira e pegar a chave e o candeeiro e passar para a nova visitante o ritual que eu acabava de lhe ensinar.

Ainda estou salva...

Sônia Gabriel

Crônica: Sonhos em Papel.

(Três Neguinhas, fotos: André P. Gabriel, próximo São Bento do Sapucai -2008)


Sonhos em Papel


Tive um sonho estranho, categoria pesadelo mesmo.
Eu explodia depois de escrever algumas cartas. Foi tão real que senti nitidamente o corpo inchar, a explosão aliviar a alma e o sangue que depois jorrou.
Eu, apesar de protagonista, podia ver tudo, inclusive as cartas escritas antes do fatídico final. Muito constrangedor assistir ao próprio "Fiat Lux".


Quando acordei, extremamente assustada, só conseguia pensar nas cartas. Nem tentei entender o motivo do pesadelo. Dormir depois do almoço, sem o hábito de fazê-lo, pode ser um deles; preocupações com o que não depende de mim, também.
Mas o pesadelo em si não é a questão. Estou intrigada com as cartas. O que será que escrevi ali? Eram tantas as páginas espalhadas, a tinta intensamente azul a ponto de eu recordar. A caligrafia forte, inclinada, irregular, como a de todos aqueles que têm urgência, que pensam rápido demais. Já conheceu algum pensador, médico, jurista, escritor com caligrafia pedagógica? Eu ainda não.
Adoro esta indagação quase que querendo ser uma constatação. Afinal, minha vaidade se restringe diante de minhas mal formadas letras.


Mas voltando as cartas, já escrevi muitas na vida.
Desde que me reconheça como escriba, escrevia para minhas primas de Minas Gerais, para Irmã Dallaste em Atibaia, para meus amigos de Jacareí (quando vim morar em São José), sim, já houve um tempo em que era mais fácil enviar cartas para Jacareí do que ir até lá.
Já escrevi cartas para meu pai depois que faleceu, para meu filho antes que nascesse e para meu amor antes que se consumasse.


Escrevi até mesmo uma carta para mim, aberta quase dezesseis anos depois de escrita e guardada de acordo com orientações de Balzac.


Com o advento da tecnologia diminui as cartas, infelizmente. Mas de vez em quando ainda faço o mesmo ritual: aconchego-me numa cadeira, organizo o espaço na mesa, ajeito duas ou três folhas em branco e as inclino e com uma saborosa sensação de antigamente deixo a caneta macular o papel. São letras, palavras, frases que o preenchem e dão vida, cor e uma harmonia pouco compreensível para quem absorveu totalmente teclados e telas.
Dobro as folhas com dois vincos e guardo sempre em envelope lacrado. Nem sempre envio. Não sei dizer por qual motivo.


Mas o fato é que ainda estou intrigada: o que tanto escrevi antes de explodir? Como saber?
Bom, é hora de caminhar um pouco, estas páginas todas, deixo por aqui...


Sônia Gabriel

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Entrevista sobre Educação


Foi publicada uma entrevista no Vale Educação (Jornal Valeparaibano, 12 de outubro de 2008, suplemento Vale Educação)
A responsabilidade dos mestres
Por Daniela Borges
Gostaria que lessem e partíssemos para o debate, é importante, é assim que crescemos e nos fortalecemos, detalhe: ISTO NÃO É RESPONSABILIDADE SÓ DE QUEM ESTÁ NAS SALAS DE AULAS, TODOS QUE SE ENVOLVEM COM CULTURA POR CONSEQUÊNCIA É FORMADOR DE OPINIÃO.
Espero por vocês.
Paz e bem!
Sônia Gabriel
"as vésperas do Dia do Professor, educadora Sônia Gabriel fala dos desafios da profissão por Daniela Borges Na próxima quarta-feira comemora-se o Dia do Professor. Em meio a discussão sobre os responsáveis pelo baixo desempenho da educação no Brasil, a figura do professor mantém a sua imagem como referência ideológica da luta por uma educação de qualidade, apesar do aparente desânimo de alguns. Especialistas do mundo todo concordam em afirmar que nas mãos dos professores está o desempenho dos alunos. São esses mestres, juntamente com os pais, os responsáveis pela formação do cidadão do futuro.Mesmo com a baixa remuneração, falta de estrutura e alunos desinteressados, há exemplos de professores que não perdem a motivação e a dedicação, e encaram as dificuldades como desafio..."

Crônica: Considerações Femininas, Jornal Zona Sul Agora.


Considerações femininas

(Publicado no jornal Zona Sul Agora em agosto de 2000)


Uma nota a nós mulheres “comuns”...
Quando, quase por um milagre, nos sentamos para ver televisão, escutar rádio, ler uma revista, um jornal (afinal entra século, milênio e alcancemos vitórias, ainda acumulamos funções), nos deparamos com um bombardeio de propagandas que se propõem a nos ajudar a sermos as mulheres ideais: são cremes, para aumentar ou diminuir, levantar, tingir, enrijecer, amaciar. Cintas, aparelhos, pílulas, sucos miraculosos, enfim uma parafernália que nos permitem não aceitar quem realmente somos.
Onde está a mulher comum? Não pejorativamente. A pessoa, simplesmente. O ser.
A mídia e o mercado dos produtos miraculosos nos dividiram em opostos específicos: gordas e magras (leia-se magérrimas, beirando a deformação), altas e baixas, velhas ou novas, lindíssimas ou feias, capas de revistas e as outras.
Lembro-me da indignação com que fiquei há alguns anos quando, assistindo um programa matinal, uma famosa especialista em moda e etiqueta afirmou que as mulheres magras são melhores cabides. Cabide?
A maturidade nos traz grandes benefícios. Ninguém em sã consciência vai fazer apologia à obesidade. Gordura não é saudável e isto é de consenso social, mas daí a sair fazendo qualquer coisa para encaixar-se num padrão de senso duvidoso há uma justificável distância.
Somos mulheres. Estudamos, trabalhamos, amamos, casamos, geramos filhos e idéias, pensamos. Pensamos! O conhecimento é a nossa maior ferramenta, não nossa maior arma. Autoconhecimento.
A vida e a natureza não são estáticas, nós não somos. O tempo passa e a beleza reside aí, na possibilidade da mudança.
Ter vaidade e saúde é importante em todas as fases da vida, mas assistir meninas de dezesseis anos angustiadas porque querem colocar silicone e fazer lipoaspiração é um pouco demais, não?
Somos mulheres, não somos cabides. Nós não temos que nos preocupar em ficar bem na roupa, a roupa é que tem que ficar muito bem em nós. Somos mulheres. E mulheres, até onde eu ainda sei, têm seios, bunda, quadris, curvas...
É da nossa natureza, são nossos atributos para a sedução, para o sexo, para a vida. Não somos pouca coisa. Não somos clientes em potencial para um mercado imoral.
Se estereotipar, perdendo a consciência de quem somos, e, em qual fase da vida vivemos é um crime que cometemos conosco mesmas e é tão perverso quanto o machismo que nos é imposto.
Tenhamos 15, 20, 30, 50..., no corpo e na alma, isto é consciência de si; cada fase da vida tem seus encantos e quem respeita sua natureza e a conserva com vaidade crítica e saúde permanece bela e feliz em todas as maravilhosas etapas de sua vida.
Pense nisso.
Se o dia Internacional da Mulher já foi confiscado pela mídia e pelo mercado, se está se tornando mais um dia para ganhar lembrancinhas e flores na fila do banco, na porta do supermercado (aliás, muito apropriado), nós ainda precisamos refletir muito sobre nossa condição de mulheres.
Este ano, sugiro esta reflexão.


Sônia Gabriel

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Opinião- Jornal Valeparaibano 01/10/2004


O que me espanta é a atualidade do que registramos há tempos.


(Publicado no Jornal Valeparaibano)


Está chegando a hora

Todo ser humano é político. Frei Betto diz oportunamente que “quem tem nojo de política é governado por quem não tem”. O “nojo” que muitos têm em relação à política não se refere diretamente a ela, mas a quem a pratica.
Política é a arte de bem governar os povos e é também, por definição, a habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados. Nada mais oportuno. E creio que aí resida o fato histórico do brasileiro se relacionar com um certo asco com a política.
No Brasil, por uma questão educacional, a política não é ensinada, como deveria, nas escolas, não é discutida em casa e quem o faz corre o risco de ser isolado do grupo, estereotipado de chato, acusado de perder seu precioso tempo. No entanto, os políticos são assunto constante. Os políticos se tornaram “a política”, e assim, por efeito de uma causa mal administrada, não sabemos política.
Todo ser humano é político. Faz-se escolhas durante toda uma existência e nem todas elas dizem respeito somente a nós mesmos. A vida em comunidade é a regra mãe da sobrevivência humana. O homem é o mais frágil dos seres, por isso a coesão se faz necessária mesmo que sejamos tratados como falanges sem lume.
A coesão com propósito é a força de um povo. Nosso receio em relação à vida política foi habilmente forjado desde nossa infância enquanto brasileiros.
No Brasil Colônia nossos administradores já davam conta da exploração sob a designação de Homens Bons, eram aqueles que possuíam mais recursos e influência os que respondiam por tal alcunha. Em um país que sempre viu a desigualdade imperar é fácil compreender porquê tão poucos dominam a arte da política.
Após a independência veio a luta pelo voto, luta esta que apesar de manifestar-se pela participação popular eram sempre encabeçadas pela elite (fazendeiros, jornalistas, intelectuais, advogados...) que dispunha de mais conhecimento em busca de seus interesses particulares.
No decorrer de nossa História serão muitas as lutas pela participação política, a república, o voto feminino, a extinção do voto de cabresto. Notaremos a condição dos excluídos: ou não vota ou necessita de “auxílio para votar”, afinal não têm como fazer as escolhas certas; maridos, empregadores, fazendeiros se encarregaram de direcionar o sagrado direito de escolha de modo a não atrapalhar o propício desenvolvimento da nação. E luta-se pelo voto secreto.
Na impossibilidade da interferência direta assistimos ao vertiginoso desenvolvimento da publicidade política, campanhas eleitorais milionárias, valendo-se de técnicas sofisticadas de convencimento de nós eleitores. Somos homens, mulheres, analfabetos, jovens com menos de dezesseis anos que podemos e devemos votar, é direito do cidadão participar, mas continuamos a não saber a arte da política. A de bem governar os povos.
Diante da falta de conhecimento o voto se tornou mercadoria, é trocado por cestas básicas, cirurgias, materiais de construção, a legalização de um terreno, remédios... E a mídia, escandalizada denuncia, aponta, tudo superficialmente, durante as campanhas políticas, de dois em dois anos. Não há como condenar aqueles que pensam que talvez a única coisa que conseguirão de seus candidatos é o que necessitam de imediato. Não sabem, assistem coligações de ocasião, políticos profissionais desmantelarem nossas mais profundas ideologias; desconhecem seus direitos, e principalmente seus deveres de cobrar, vigiar, interferir, não aprenderam, e não aprenderam porquê ainda se dissemina (para o nosso inconsciente coletivo) que gosto, religião e política não se discutem...
Mas se lamentam!


Sonia Gabriel

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Antologia de Contos - 2001


(Selecionado e publicado na Antologia de Contos -2001- da Universidade do Vale do Paraíba)
CONCEIÇÃO COMO TANTAS

A sensação tinha sido mágica, o vestido não era branco, não era uma cerimônia sonhada, não havia convidados, mesmo assim não deixava de ser mágico aquele momento. O casamento. Uma velha conhecida dizia “ existem dois tipos de mulheres as que sonham com o casamento e as mentirosas”, Conceição se casou. No interior pobre do Recife de 1950.
O noivo, um homem muito mais velho, forasteiro, parecia viajado, falava diferente, usava roupas diferentes, mas depois do casamento foi que ela percebeu: a pobreza era igual. Mas como não se apaixonar par alguém que não compartilhava a pobreza de uma infância, os desgostos de da adolescência, enfim alguém que não compartilhava da sua miséria, da falta de sonho. Uma esperança de enxergar lugares diferentes, de ver terra de outra cor, sentir gosto de outras comidas. Na vila todos se casavam com todos. Quanta esperança, já não era ela igual às suas miseráveis companheiras de infortúnio.
Casada, lá vem Conceição atrás do marido, atrás de esperanças que desmoronaram na cidade. A acolhida parecia se distanciando quanto mais se aproximava o asfalto, os edifícios, os automóveis. Sentia na cabeça um pouco de tontura pela fome não saciada durante o caminho, no corpo lembranças da noite de núpcias, conseqüência, preço da esperança de Conceição. Nada de beijos, se bem que mal sabia sobre beijos, a não ser pelos que viu em alguns cartões que um homem, sentado, próximo não se esforçava muito em esconder, maliciosamente olhava fixo mulheres nuas ou semi-nuas , enroscadas em homens completamente vestidos.
O marido havia se deitado com ela, não disse uma palavra. Apenas quando se conheceram fizera um gracejo ou outro, ela era moça da roça: plantava, colhia, implorava chuva para germinação, sol para colheita, menina nova, virgem. Uma a menos para comer na casa do pai. Ouvira pouca coisa da cidade, o suficiente para saber que deveria haver céu já que ali era o inferno. Conceição sentia medo pelo caminho, não tinha mais mãe para olhar, pai para grunhir. Quebrando um silêncio de horas o marido lhe fala:
__ Conceição, vai gostar de meu irmão, passei por lá faz seis anos. Tem mulher e crianças, nos recebe lá, arrumo serviço e casa depois.
Chegaram à cidade após dezesseis horas de viagem. Depois de muito andar, avistaram a casa do irmão do marido. Lugar pobre, mas rico perto da Vila, não havia asfalto, porém estava bem pertinho dele. Moravam muitas pessoas num mesmo quintal, e pela providência divina, não é que há pouco desocuparam um quarto? Tudo se realizando. Conceição tinha um marido, agora uma casa. Em poucos dias o marido arrumou um fogão de duas bocas, uma cama de casal, duas cadeiras, um armário e algumas louças... panelas que brilhavam.
Logo que se acomodaram Conceição se deitou, novamente, com o marido. Ele desde a viagem não a tinha procurado, e ela se sentia melhor assim, mas o atendeu sem queixas.
O irmão conseguiu trabalho em uma construtora, São Paulo sempre tem trabalho na construção e lá vai o marido junto. Benção ser servente dos bons.
Assim que recebeu, comprou coisas melhores para comer e alguns metros de fazenda para um vestido e uma calça e camisa de Domingo.
Conceição passava só seus dias. As pessoas falavam muito nos quartos. Quando saia para ir ao banheiro, ou, para buscar água reparava que a olhavam. Era uma estranha, sabia que não falava como eles. Soltava sons de bom dia ou o oposto. Gostava quando o marido chegava, não falavam muito, mas já não era solidão.
A cunhada era faladeira e andava pelos barracos o dia todo. Tinha muitos filhos; Conceição nunca contara, se perdia só de olhar. A cunhada vinha com umas conversas estranhas de vez em quando. Investigava para saber se o cunhado a procurava, se ainda fazia direito, já que era grande a diferença de idade. Ficava perguntando se Conceição gostava, dizia que era uma das raras coisas a que pobre tinha direito. Conceição não gostava das conversas, mas também não sabia por quê. Não entendia como uma coisa tão sofrida e desagradável podia ser de tanto gosto da cunhada.
Passados alguns meses e alguns móveis a mais o marido chega de tardinha, entra, Conceição, barriguda, o cumprimenta só com a cabeça, o marido não responde, depois fala que está sem trabalho, acabou a obra, não sabe quando começa outra. Acabada a obra, foi-se acabando a comida, Conceição ficava em casa, parada, apática, olhando... a barriga crescendo. Estava sempre calada não podia perceber-se se pensava. O marido não pagava o aluguel. Bebia o pouco que arranjava na rua. O quarto foi ficando apertado, sufocava-a, mal cheiroso, já não tinha com que lavar. Precisava de ar. Saiu.
Ela andou pelo asfalto. Cansou. Entrou pelo mato. Sentia saudade da mãe, mas não da seca e nem da enxurrada. Caminhou pelo mato, olhava o rio. Quanto ar! Passou por uma ponte. Voltou. Fitou a água clara, bonita, imaginou que no céu tinha água, comida, sol, tudo no tanto certo, é! No céu devia ser muito melhor. Imaginou um casamento, filhos, uma casa com muitos quartos. No céu devia ser muito melhor, se imaginou conversando, pensando e sorrindo, sorrindo alto. Sentiu uma enorme dor de cabeça. Havia feito um enorme esforço. Pulou
.
Sônia Gabriel

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Opinião- Jornal Valeparaibano 26/08/2008


(Publicado no jornal Valeparaibano, 26 de agosto de 2008)

Texto: O desafio da Cultura.

O texto na íntegra está abaixo (postagens anteriores)


Agradeço aos colegas que leram e enviaram e-mail, ligaram, comentaram. É na discussão que meu aprendizado vem se fortalecendo. Algumas vezes concordamos, outras não. Mas conversamos, não impossibilitamos o debate das idéias, este é o cerne da democracia.

Paz e bem!

Sônia Gabriel

Programa Realidade - Entrevista


Caros amigos, o programa que participei na segunda-feira vai ser reprisado hoje.

Nesta quarta-feira, 27/8, no programa Realidade você acompanha a entrevista da pesquisadora e professora de História e Sociologia, Sônia Gabriel, conversando a respeito de histórias do Vale do Paraíba, material que resultou na obra Mistérios do Vale. Para fazer sugestões, comentários e participar do sorteio do livro "Mistérios do Vale" escreva para realidade@redemundial.com.br ou ligue para (12) 3941-8803. Assista ao programa pelo canal 11 VHF, 18 da NET ou pela internet, às 12h e no horário alternativo, à meia-noite.
Paz e bem!
Sônia Gabriel

domingo, 24 de agosto de 2008

O Desafio da Cultura


O desafio da Cultura

Acabei de ler a matéria “Cidadão exige mais espaço e mais lazer”, jornal Valeparaibamo, 24 de agosto de 2008, escrita pelo jornalista Francisco Pereira, dentro da série Agenda 2012.
(Leia a matéria no www.valeparaibano.com.br)

Quando conversei com o jornalista e ele me perguntou quais seriam os desafios da administração municipal para a cultura nos próximos anos, fui enfática em dizer que o grande problema é a comunicação. Não há como negar os investimentos que vem sendo realizados na cultura. Não tive há algumas décadas, quando adolescente, a possibilidade de participação e aprendizado na área cultural, nesta cidade, que vejo atualmente. Há espaços, bibliotecas, museus, arquivo histórico, diversos pontos na cidade onde estão à disposição, segundo informações do próprio jornal, 380 oficinas em 42 modalidades.

Mas a grande questão é a comunicação. Não são raros colegas professores e membros da comunidade reclamarem que não ficam sabendo de tal evento. O que acontece? Já tive este diálogo com profissionais de diversos setores da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e a resposta é sempre em tom de inquietação já que a FCCR divulga seus eventos e oficinas em jornal regional, no site oficial da instituição e no Jornal do Consumidor que pode ser encontrado em qualquer feira na cidade, além de manter vários informativos.

Participo de eventos de altíssima qualidade, e incentivo a participação de meus alunos. Mas é óbvio que, aprimorar em busca da qualidade deve ser sempre a meta de qualquer gestão comprometida. Valorizar a diversidade das manifestações culturais, principalmente. Tornar acessível a participação popular faz parte deste contexto e colocar-se à disposição para conhecer estes trabalhos deve fazer parte do contexto de nossos intelectuais.
Não obstante, já fui a palestras de renomados especialistas, nas mais diferentes e importantes áreas do conhecimento, que não contavam com mais que quinze interessados em seus auditórios.
O caminho está aberto. É preciso ampliá-lo, diversificá-lo e aprimorá-lo, sem elitizá-lo.
Desconsiderar os trabalhos desenvolvidos na cidade, onde as manifestações culturais populares são o cerne, jamais. Cabe a sociedade e principalmente aos professores, conhecer estas atividades, divulgá-las e incentivá-las, inferir no processo contínuo de resgate, preservação e valorização.

Não é admissível educadores não conhecerem as atividades que acontecem na cidade, e elas acontecem, há uma constância, são de qualidade e desconhecê-las, até mesmo para estabelecer a crítica (que deve ser sempre bem vinda) pode caracterizar uma profunda falta de comprometimento para com a profissão que exercem. Não há Educação de qualidade sem Cultura. É totalmente improvável.

Procure conhecer, participar, analisar, oferecer sugestões e exigir diversidade dentro do direito que todo cidadão consciente e ativo tem de ter acesso à Educação e Cultura de qualidade.

Professora Sônia Gabriel
Membro do Instituto de Estudos Valeparaibanos

Nas Trilhas do Zé Mira...


Faleceu Zé Mira, partiu um sonhador com os pés no chão.

Curiosamente, há muito tempo tenho vontade de ler o livro Nas trilhas do Zé Mira, de Lídia Bernardes. Semana passada, Flávia Diamante me avisa que está no Circular Clandestino do Museu do Folclore, um exemplar. Fiquei desesperada com a falta de tempo para ir buscá-lo. Felizmente era para ser meu.

Não tive a honra de conversar com Zé Mira pessoalmente. Por uma série de circunstâncias, que não compreendo, meu aprendizado não passou por sua presença física, mas li muito, ouvi muito sobre Zé Mira.

Está aqui, ao meu lado, o livro; lerei com um "quê falhei em não apressar-me". Mas com certeza terei horas alegres de leitura e principalmente, alimento para minha certeza, que se constrói, de que a cultura não é para poucos, e não pode ser cuidada por poucos, o saber está para além dos diplomas, sabatinas e pretensões de explicar os outros, o conhecimento passa principalmente por tentarmos aprender passando pelos outros e seus deslumbramentos e desmembramentos.

Zé Mira está o que sempre foi: ENCANTADO.

Paz e bem

Sônia Gabriel

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Crônica: Gente...


Gente...

Foto minha: Teto Sala das Promessas, Basílica de Nossa Senhora Aparecida - SP, 2008.


Certo artista escreveu que anda cansado, me pareceu necessitar de um pouco de ostracismo.
Gente demais sufoca. É muita energia, nem sempre boa, muita carga emotiva e de quando em quando é impossível desligar-se e conviver na justa medida. Nestes momentos, a solidão pode ser singular companheira.
Sempre estive cercada de gente, escolhi trabalhar e criar envolvida por tal matéria-prima. Assim sendo, tenho que estar preparada para tudo.
Nem sempre consigo explicar-lhes ou me explicar atitudes que transcendem o bom caráter.
E a gente fica pensando e até externa baixinho: “Como é que pode?”
Tenho visto de tudo: o veneno que escorre pelos olhos esguios de quem não suporta a paz e a felicidade que invadem os outros, o cochichar característico de quem quer ferir seu semelhante porque se incomoda sabe-se lá com o quê. E só quem se dispõe a estas cenas pode justificar a escolha do papel.

Tenho cá minhas hipóteses: o individualismo da sociedade moderna. Todo mundo trabalha muito, a necessidade de consumismo, de TER cada vez mais, tem deixado pouco tempo para SER um pouco mais. Falta tempo com a família, faltam afeto e cuidados. Falta a abundância da vida. E como ainda não é possível comprar tudo, tem muita gente com um vazio que dinheiro, carreira e status não preenchem.

Quando a gente escreve, desenvolve um bendito de um ouvido e de uma visão que chegam a nos ferir, já que nem tudo se permite filtrar e digerir.
Haja tempo para fofocas, maledicências, arrogâncias, intolerâncias, abusos de poder (que acham que têm) e tantos outros males que nos assolam diariamente.

Sábia era dona Firmina: “É tudo casca, bem. Gente sozinha, falta sentimento.”
Deve ser.
Não tenho dúvidas: a vida é um parto.

A tentação de nos isolarmos é sedutora, mas como nos humanizarmos sem a presença de outrem?
As pessoas são imprescindíveis, não nos humanizamos sem elas. São e estão para nosso bem e nosso mal, fazem parte de nosso crescimento.
A cada dia, vejo incontáveis motivos para desistir da convivência e quando estou quase desanimando do ser humano e por tabela de mim (a não ser que achemos que estamos acima da raça), vem um fato, uma verdade, uma pessoa e às vezes uma pessoinha e renasce aquele enorme e incondicional amor que temos por nós mesmos e pelos outros também.
Há gente de tudo quanto é forma, jeito, cheiro, aparência; não há como não conviver, mas é preciso muita prudência para não adoecer a alma.
Cada qual constrói o escudo que melhor se ajuda às suas necessidades: uns gritam, outros ferem, há ainda aqueles que transferem suas dores para o sagrado ar de todos. Também tenho meu escudo, escolhi o sorriso. Não é pior e nem melhor que as escolhas de meus semelhantes.
Se fosse me prender nas feridas teria desistido de sorrir há anos, resolvi que as feridas é que não me impediriam, não permiti e não permito.
Eu só tenho esta vida; tenho obrigação de me fazer feliz.
Gente! Bom, nós também somos... E por mais que abale nossa vaidade (e sempre dói) somos gente igual a toda gente e só...
Cada qual com seus mistérios, suas dores, suas vitórias e alegrias, mas no fim somos gente, de alma gritante, coração pulsante, mas gente sempre...

Sônia Gabriel

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Mais sobre Orgulho Caipira...


Caros amigos, conheçam um pouco mais sobre o grupo Orgulho Caipira (link abaixo e ao lado). No blog vocês encontram a origem de cada uma das danças abaixo. É muito interessante.

O Grupo Orgulho Caipira de Lagoinha surgiu por iniciativa de Amarildo Pereira Marcos, em 2001, quando foram apresentadas várias danças, dentre elas a Dança do Caranguejo, Folia de Reis, Folia do Divino, Dança do Sabão, etc.A partir daí, alguns amigos, amantes da cultura, se reuniram e resolveram montar um Grupo com o objetivo maior de resgatar a cultura da terra.O Grupo, formado basicamente por 20 componentes, apresenta, além das Danças e Folias acima citadas, a Roda de Jongo, Cantigas de Mutirão (conhecidas em nossa cidade por Brão) e também o Calango .O Grupo se apresenta em quase todas as festas populares que acontecem na cidade de Lagoinha e região.


APRESENTAÇÕES do GRUPO ORGULHO CAIPIRA

DANÇA DO SABÃO
DANÇA DO CARANGUEJO
CATIRA
DANÇA DE SÃO GONÇALO
DANÇA DA PINGA
DANÇA DO JONGO CABOCLO
CANTIGA DO MUTIRÃO OU BRÃO
FOLIA DE REIS
FOLIA DO DIVINO
MISSA CAIPIRA
MÚSICA RAIZ
MÚSICA PARA ARRASTA PÉ
SHOW PARA TODAS AS IDADES.

FONE 97 06 48 30 AMARILDO COORDENADOR

OUTRAS INFORMAÇÕES WWW.ORGULHOCAIPIRA.BLOGSPOT.COM/

domingo, 20 de julho de 2008

Matéria no Jornal Valeparaibano 13/07/2008


(Matéria publicada no Vale Educação, Jornal Valeparaibano, em 13/07/2008)

Vêm aí Filosofia e Sociologia

Matérias extintas há 37 anos voltarão ao currículo do ensino médio em 2009



Em busca de uma educação mais crítica, que proponha uma visão mais humanista, disciplinas isentas da obrigatoriedade há 37 anos voltam ao cenário escolar.A lei que torna obrigatória a volta das disciplinas Sociologia e Filosofia à grade curricular do ensino médio foi sancionada no início do mês passado pelo presidente da República em exercício à época, o vice-presidente José de Alencar. A lei foi aprovada pelo Congresso Nacional e entra em vigor tão logo seja publicada no Diário Oficial da União.

As duas disciplinas haviam sido excluídas do currículo escolar por decisão do regime militar, que governou o país no período de 1964 a 1985, que considerava seus conteúdos supostamente subversivos. Naquela ocasião, o regime adotou a disciplina de Educação Moral e Cívica, já extinta.A inserção das matérias nas escolas ficará a cargo das Secretarias de Educação, o que deve acontecer só a partir do ano que vem.


ENTENDIMENTO - Para a professora de sociologia e pesquisadora Sônia Gabriel, de São José, a inclusão das disciplinas na grade curricular representa um ganho para a educação. "A filosofia possibilita ao aluno a introdução de conceitos da lógica, ética, estética, política e metafísica", explica Sônia. "São conhecimentos que favorecem um maior conhecimento de si mesmo, do outro e do meio", completa.A sociologia, de acordo com ela, permite ao aluno conhecer a sociedade e todos os elementos que a compõem. "Nesta disciplina, professores e alunos vão entender as relações sociais partindo da economia, antropologia, política entre outros conhecimentos que permeiam nossas vidas, nosso trabalho, e não nos damos conta", explica.Para Sônia, existe ainda a necessidade de um entendimento mais aprofundado dos mecanismos que regem a sociedade. "Esses mecanismos precisam ser mais explorados, refletidos e compreendidos, não apenas apontados", alerta.

As disciplinas que mais se dedicam a essas questões, segundo ela, são História, Geografia, Sociologia e Filosofia. "Todas elas têm a sua importância e cada uma a seu modo contribui para o fortalecimento da cidadania e a construção de uma sociedade mais justa", conclui.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Encontro na UNIVAP - 29/05/2008


O encontro com os alunos do 1° ano de História, Universidade do Vale do Paraíba, dia 29/05, foi muito proveitoso. Falei sobre minhas pesquisas que resultaram no livro Mistérios do Vale e conversamos também sobre Educação. Os alunos apresentaram trabalhos sobre a História e Cultura no Vale do Paraíba sob a orientação da professora Valéria Zanetti.
A turma se mostrou muito antenada e isto nos anima muito. A relação de profissionais com universitários deve sempre ser estimulada, mais do que troca de conhecimentos, acredito na troca de energias, experiências e motivação para ambos os lados.





As fotos foram enviadas pela Nara e o convite partiu da Dicéia, todas, comigo, na foto acima. Obrigada, meninas!
 Paz e bem!
Sônia Gabriel

terça-feira, 3 de junho de 2008

Um Vale de Livros: Moacyr Pinto


Continuando com nosso 'Um Vale de Livros', conheçam a obra de...


Moacyr Pinto da Silva é educador e sociólogo, tem 58 anos, mestrado em Sociologia do desenvolvimento. Com um currículo sólido e reconhecido, o autor do livro "Conto de Vista: histórias no Brasil que elegeu Lula", é um estudioso que viajou muito pelo Brasil e viveu no Sertão da Bahia, Fortaleza, ABC, Sorocaba e atualmente mora em São José dos Campos. 

O livro pode ser encontrado nas livrarias Nobel de Jacareí, São José e Ubatuba; na livraria da Unip; em várias bancas de jornais de São José dos Campos, entre elas a do Shopping Vale Sul e diretamente com o autor:

Tel: 12- 3913-5466.
Cel: 9731-1708.

Valor: R$25,00.

domingo, 25 de maio de 2008

Convite: Semana de Meio Ambiente de Jacareí



Meus amigos, segue o convite da Semana do Meio Ambiente de Jacareí. Na oportunidade, falarei sobre esses quase sete anos de viagens e pesquisas pelo Vale do Paraíba. O convite partiu de Teresa Ribas que oportuniza uma visão mais completa sobre o Meio Ambiente do Vale do Paraíba, focando também na questão cultural. 
Aproveitaremos o momento para uma breve reflexão sobre a dificuldade de interiorizar conceitos como preservação, por exemplo, e o quanto isto está intimamente ligado à cultura.

Conto com vocês.
Abraços
Sônia Gabriel